Novo post criado em 20 de Sep de 2023 as 01:46:14

Por: Matheus Babo, São Januário

Na última reportagem da série especial dos 25 anos da conquista da Libertadores, vamos relembrar algumas histórias contadas por quem fez parte daquela campanha, como Antônio Lopes, Felipe, Mauro Galvão, Luizão e Donizete, mostrando que a decisão diante do Barcelona, em Guaiaquil, não foi tão fácil quanto parece e que o bom ambiente entre boa parte daquele grupo se mantém até os dias atuais, mesmo duas décadas depois daquele título.

Foto: Agência O Globo

A “GUERRA” NO EQUADOR

Depois de eliminar o River Plate na Argentina, o clima de oba-oba ganhou os torcedores, mas os jogadores e a comissão técnica sabiam que ainda havia um adversário forte pela frente. E a decisão diante do Barcelona (EQU) não foi tão fácil quanto parece. Ainda mais por conta dos fatores extra-campo, onde os equatorianos fizeram de tudo para atrapalhar.

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– Nós tivemos problemas desde o primeiro minuto que pisamos em Guaiaquil. Eles passaram uma imagem para os torcedores e a imprensa de lá que tinham sido maltratados aqui, talvez pra justificar a derrota. No aeroporto e no hotel era uma barulheira insuportável. Atrapalharam nosso treino na véspera, mas sabíamos disso tudo. Era só assim que eles podiam ganhar. Como capitão, reuní o time e entramos ainda mais concentrados. No estádio, o vestiário tinha fumaça, tinta pra atrapalhar. No campo eles atiravam pedras. Nós aquecemos no corredor do estádio – conta Mauro Galvão.

Para o lateral-esquerdo Felipe, que era um dos jogadores mais jovens daquele elenco, a confusão criada pelos equatorianos só serviu de motivação para o Vasco, que possuía um elenco mais forte e mais qualificado, além da vantagem confortável construída no jogo de ida, em São Januário.

– Chegamos no Equador e já tinha toda uma confusão no aeroporto, tivemos muita dificuldade para sair, escoltados pelo exército, tinham pessoas do exército armadas no ônibus que nos levou para o hotel. Entramos pela porta lateral. O Barcelona sabia que nosso time era superior tecnicamente e utilizou dessas artimanhas para desestabilizar. Felizmente, ou infelizmente, no futebol isso é utilizado para desestabilizar o adversário. Nós tinhamos uma vantagem confortável e isso só serviu de motivação – explica Felipe.

Após o jogo, foi só festa. Com a sensação do dever cumprido, os jogadores vibraram com a conquista e comemoraram durante dias. Na volta ao Rio, desfile em carro aberto, muito pagode e cerveja.

Válber: do Bloco de Carnaval a decisivo nas oitavas

Linha-dura, Antônio Lopes não dava folga aos atletas durante o Carnaval. Mesmo assim, alguns deles, davam um jeito de curtir a folia. E o coringa daquele elenco, Válber, nem fez questão de esconder que estava aproveitando a farra ao chegar num treino vestido de mulher:

Valber, a esquerda, ao lado de Mauro Galvão e Donizete – Foto: Reprodução/Twitter

– Teve um treino durante o carnaval, pouco antes de começar a Libertadores. O Lopes não deu folga e faltava só o Válber. O professor disse que o treino só começaria quando ele chegasse e assim foi. Só que ele apareceu com aquela moto verde (Kawasaki Ninja) pelo portão de São Januário, vestido de mulher. Com um fio dental. Todo mundo riu demais, ele era maluco – conta o volante Fabrício Carvalho.

– Ele chegou de cinta liga. Veio lá do Metropolitan. O Valber era maluco. Foi um treino de manhã. Eu estava no baile com ele. Eu sempre cheguei no horário, ele sempre gostava de chegar atrasado – conta Luizão, aos risos.

O Vasco teve uma primeira fase difícil e avançou com a pior campanha. Nas oitavas, o adversário seria o Cruzeiro, campeão do ano anterior. No primeiro jogo, o Cruzmaltino venceu por 2 a 1 em São Januário. Antes da partida de volta, Lopes perdeu vários jogadores após um jogo contra o Friburguense, pelo Carioca: Luisinho, com afundamento no crânio; Juninho, torção no tornozelo; Ramon, lesão no joelho; e Luizão, com oito pontos na boca após uma cotovelada. Além de Odvan e Alex Pinho, vetados. Após uma conversa com o superviso Isaías Tinoco, Lopes decidiu:

– O Válber tinha faltado a um treino e ficou fora da relação. Eu relutei, mas acabei ouvindo o Isaías na época. Ele que administrava os problemas extra-campo e o time também precisava do Válber, que era muito bom. Ele, Nelson e Nasa fizeram um grande jogo contra o Cruzeiro lá em Minas, seguramos o 0 a 0 e avançamos para às quartas de final.

PANTERA X ODVAN

Foto: Reprodução Twitter

Na véspera de alguma partida que o Vasco fez fora de casa, o zagueiro Odvan, conhecido pela força física, quase tirou Donizete do jogo. E de uma forma bem diferente da que qualquer torcedor pode imaginar, como o próprio Pantera conta:

– Nós concentrávamos juntos. Eu tinha mania de dormir como vim ao mundo. Ele também. No meio da noite, eu acordei e fui ao banheiro. Pra não atrapalhar, não acendi a luz, nem dei descarga. O problema foi que o “negão” acordou na mesma hora. Na hora que voltei, ele tava indo. Um trombou com o outro. Joelho com joelho, cabeça com cabeça… foi bem desagradável. O meu joelho inchou e tive que ser medicado. Quase fiquei fora do jogo. O Odvan batia até na concentração (risos).

GRUPO MANTÉM CONTATO

Duas décadas e meia depois, aquele grupo que fez história de 97 a 2000 ainda mantém contato. Muitos jogadores daquela geração vitoriosa ainda mora no Rio de Janeiro, então costumam se reunir sempre que possível. E com os que moram longe, o Whatsapp e a internet facilitam a comunicação.

– Temos um grupo dos campeões da Libertadores. A gente mantém esse contato. Estou em Ribeirão sempre com o Mauricinho, vou encontrando a galera. Nosso time era muito unido. Era uma mescla entre os caras mais experientes e a molecada, você pode reparar que nunca teve nenhuma briga. Queríamos ganhar mesmo. A retaguarda era muito boa. Com o Lopes, Alcir, Isaías, Bebeto de Oliveira, os roupeiros, médicos, era uma família. Dá muita saudade – conta Luizão.

Foto: Agência O Globo