Paulo Henrique: ‘Depois de vestir a camisa do Vasco não tem como sair daqui sem ser um pouquinho vascaíno’

Paulo Henrique: ‘Depois de vestir a camisa do Vasco não tem como sair daqui sem ser um pouquinho vascaíno’ Sexta-feira, 15/12/2023 – 08:33 Paulo Henrique ainda não sabe o que será do seu ano de 2024. Fica no Vasco? Volta para o Atlético-MG? Vai para outro clube? Com o futuro indefinido, o lateral-direito, que foi bem na reta final do Campeonato Brasileiro, tem certeza apenas de uma coisa: ele termina o ano “um pouquinho vascaíno”.

– Desde a primeira semana eu me senti em casa, muito identificado. A torcida abraçou, ter o nome gritado em São Januário foi muito especial. Criei um carinho muito grande, tenho várias coisas do Vasco aqui em casa, foi um ano em que fui muito feliz. Depois de vestir a camisa do Vasco não tem como sair daqui sem ser um pouquinho vascaíno – disse Paulo Henrique em entrevista ao ge.

Contratado por empréstimo junto ao Galo no início desta temporada, o jogador de 27 anos não teve um 2023 fácil. Titular em apenas um jogo nas primeiras 25 rodadas do Brasileirão, Paulo Henrique teve que procurar ajuda para suportar o momento difícil.

Para isso, contou com o apoio da esposa Patricia, que esteve ao lado do atleta desde o início difícil no Sul do país, com passagens por Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul. Os dois estão juntos há quatro anos e foi ela quem o aconselhou a procurar ajuda psicológica no Vasco.

– Aconteceram muitas coisas no decorrer do ano e, conversando com minha esposa, ela viu que seria bom eu procurar (a psicóloga), por tudo que vinha acontecendo. Eu já havia feito consultas no Atlético-MG. A gente tem restrição quanto a isso, mas eu fui vendo que é muito importante. No futebol, boa parte é psicológico, mental. Ela foi me passando exercícios, informações para eu sustentar esse momento difícil e chegar preparando quando surgisse a oportunidade – revelou.

E a oportunidade surgiu na 26ª rodada do Brasileirão. Após a chegada de Ramón Díaz, Paulo Henrique foi titular em nove jogos e deu conta do recado. O treinador argentino foi fundamental na mudança de prestígio do jogador dentro do Vasco. Isso aconteceu com muito “puxão de orelha”.

– Após o jogo do Botafogo, que eu tinha feito o gol, ele chegou e falou: “Não deixa cair, não relaxa, continua firme”. Isso ele cobrou da equipe e de mim. O futebol é de altos e baixos, eu cheguei em um nível bom e ele continuou cobrando – contou o lateral.

Em frente à coleção de camisas, algumas que vestiu nos clubes por onde passou e outras que trocou com amigos de outros time ao longo da carreira, o lateral olhava para duas de uma forma diferente. Ambas do Vasco: a que ele usou no gol marcado sobre o Botafogo e a da assistência contra o Red Bull Bragantino, no jogo da permanência.

– Me pediram a do jogo do Botafogo e eu falei: “Não dá”. Saí do jogo e já escrevi na etiqueta “gol” para saber que era a camisa do gol e, que não importa quem peça, essa vai ficar guardada. Nem ela nem a do último jogo, contra o Red Bull Bragantino, ninguém chega nem perto. Intocáveis – destacou o camisa 96 do Vasco.

Paulo Henrique recentemente foi alvo de sondagem de dois clubes da Major League Soccer (MLS). Ele também recebeu proposta de clubes da Série A do Brasileirão. O Galo só aceita vendê-lo. Alexandre Mattos, novo diretor de futebol do Vasco, ainda não se reuniu com o jogador e o clube mineiro.

O lateral recebeu a equipe de reportagem da Globo em seu apartamento no Recreio, na última quinta-feira. Às vezes interrompido por Jake, um dos gatos do casal, Paulo Henrique passou a temporada a limpo. Leia a entrevista abaixo:

Paulo Henrique, do Vasco, e sua coleção de camisas — Foto: Emanuelle Ribeiro

ge: O que fica desta temporada?

Paulo Henrique: o sentimento de alívio e de dever cumprido dentro do que o campeonato nos proporcionou. Claro que a gente não queria brigar por rebaixamento, mas foram as circunstâncias.

Troca de técnicos e oportunidades na reta final

Foram três treinadores, ambos com suas qualidades. Todos me deram confiança, as oportunidades não apareceram, mas trabalhei bastante meu mental para sustentar essas adversidades para quando chegar a oportunidade eu estar preparado. Sempre me dedicando ao máximo nos treinamentos. Tive até oportunidade com o Barbieri e com o William, mas a sequência com o Ramón foi muito importante e foi o que fez eu mostrar dentro de campo meu futebol.

Trabalho de Ramón Díaz

Ele passou muita confiança para toda a equipe. A gente vinha de momentos difíceis e com ele tivemos essa virada de chave. Ele cobrou muito, porque sabe que a gente poderia evoluir bastante, mas também passou muita confiança. Eu fiquei alguns jogos sem jogar depois que ele chegou também, mas ele me passou confiança, conversava e, quando me deu oportunidade, me deixou tranquilo para jogar. Foi me passando mais confiança para ajudar o Vasco. Foi muito importante para mim.

Como era o vestiário do Ramón após os jogos?

Mesmo quando a gente vencia, que a gente estava comemorando no vestiário, ele falava para a gente não relaxar, porque ele sabia que a caminhada era árdua e que tinham vários jogos pela frente. Ele dava os parabéns, mas falava: “Não relaxem”. No dia seguinte ele reforçava no treino. Isso marcou muito. Ele não deixava a gente entrar na zona de conforto.

Expectativa para 2024

Houve a troca de diretoria agora, a gente tinha tido uma conversa lá atrás. Mas estou bem tranquilo, houve contatos de clubes do Brasil e de fora também. Esperar o Vasco se reorganizar, o que for melhor para os dois será feito no final.

O Vasco tem tudo para deslanchar. Foi um ano difícil, mas acredito que o Vasco vai vir forte para poder voltar a brigar lá em cima, que onde ele deve estar. A camisa do Vasco pesa muito.

Qual foi o sentimento após a assistência no gol que garantiu o Vasco na Série A em 2024?

Foi um momento muito especial. A gente estava com a vitória na mão, acabamos tomando o gol, o tempo passando e veio toda aquele tensão, nervosismo. Ao mesmo tempo eu tinha o coração em paz, minha esposa também disse depois que ela sabia que algo ia acontecer. Não imaginava que ia ser tão especial do jeito que foi. Fui muito feliz em fazer a jogada e cruzar, feliz também pelo Serginho, porque ele merece. Foi um alívio muito grande, eu não tive nem forças para correr e comemorar, só ajoelhei na hora. Depois só queria que o jogo acabasse, fizemos nosso papel.

O que o Ramón disse após o jogo contra o Bragantino?

Deu parabéns, quando ele chegou ele falou que o Vasco não ia cair e todo mundo acreditou no processo, abraçou e teve o compromisso de fazer tudo por isso. Todo mundo comemorou, a gente viu a alegria no rosto de todos, funcionários, comissão, atletas. Foi um momento incrível.

Possibilidade de jogar mais adiantado

A velocidade é uma característica minha desde sempre, me acompanha desde menino. Eu já joguei na linha de frente algumas vezes, principalmente pelo Juventude. No início é meio estranho, mas fui me adaptando e consegui fazer bem a função. Mas também tenho características defensivas, até por isso a preferência é jogar na primeira linha. Mas o que o treinador precisar eu posso fazer.

Identificação com o Vasco

Desde a primeira semana eu me senti em casa, fui abraçado por todos, me senti muito identificado. A torcida abraçou, ter o nome gritado em São Januário foi muito especial. Criei um carinho muito grande, tenho várias coisas do Vasco aqui em casa, foi um ano em que fui muito feliz. Quem está fora sabe que o Vasco é um clube gigante, com muita história, batalha contra o racismo…

Mas quando você vive o Vasco no dia a dia você percebe que vai muito além disso, que é muito maior. A gente não consegue ter a dimensão do tamanho, mas dá pra medir um pouco dessa grandeza. Depois de vestir a camisa do Vasco não tem como sair daqui sem ser um pouquinho vascaíno.

Acredita que Payet poderá ajudar mais o clube no ano que vem?

É uma pessoa excepcional. Ele é até meio brasileiro, brinca, zoa, dá risada. No começo teve um pouco da dificuldade da língua, mas ele foi aprendendo, se soltando. No treino a gente fala que quando ele pega no mano a mano é quase impossível de parar, craque. Trata todo mundo igual. Esse ano teve adaptação, vinha de um tempo sem jogar, mas foi pegando o ritmo e tem tudo para ajudar o Vasco no próximo ano e dar muita alegria para o torcedor.

Caneleira personalizada com fotos da esposa

Minha família é minha base. Fiz dois pares, um para levar comigo para os jogos, um para deixar aqui em casa, ficar exposto junto com meus troféus, camisas. Minha esposa foi minha base, o que ajudou a deslanchar minha carreira. Ela é muito importante, e a caneleira é um símbolo que representa isso.

Coleção de camisas

No decorrer dos jogos, quando a adrenalina abaixa um pouco, a gente vai pegando as camisas, principalmente dos amigos. E tem de jogadores como o Lucas, do São Paulo, por exemplo. Por toda história que ele tem, eu pedi e ele cedeu com toda a humildade. São as lembranças que ficam depois que a gente para de jogar.

Caneleira personalizada de Paulo Henrique, do Vasco — Foto: Emanuelle Ribeiro

Fonte: ge