Aos 34 anos e sem clube, Dedé diz que gostaria de voltar a vestir a camisa do Vasco Quarta-feira, 21/09/2022 – 12:38 Sem clube depois da saída do Athletico-PR no início de agosto, Dedé não para. E não quer parar. Mira uma nova fase de grande futebol para encerrar uma carreira tolhida por lesões. Divide-se entre academia, treinos no Volta Redonda e o negócio que toca com o coração, um pesqueiro em Pinheiral, no Rio de Janeiro, onde atua nas posições de garçom, caixa e o que mais precisar.
Aos 34 anos, Dedé diz viver seu melhor momento desde que se recuperou das lesões. Admite que na Ponte Preta ficou abaixo do que esperava – disputou apenas dois jogos no Paulistão deste ano – e entende a insatisfação com sua passagem. Sentimento que se inverteu no Athletico-PR, quando se enxergava em plenas condições de ajudar, mas não recebeu oportunidades com Luiz Felipe Scolari.
Pela primeira vez, ele comentou sobre a saída do Furacão. Após a vitória sobre o Atlético-MG no Mineirão, em 8 de agosto, jogo no qual Felipão usou reservas na zaga, Dedé não conseguiu esconder a decepção de não ter uma oportunidade.
No vestiário, foi visto cabisbaixo pelo técnico, que não gostou nem um pouco. Scolari se dirigiu ao diretor de futebol Alexandre Mattos e pediu a saída do jogador. Foi atendido. Após ouvir as informações, Dedé garantiu que não guarda mágoas e explicou.
– Eu fiquei tranquilo, é normal um atleta ficar chateado, até favorável para o clube o jogador não se sentir satisfeito por não ter oportunidade. Estava no meu melhor momento, e o jogo contra o Galo no Mineirão seria muito marcante por tudo que vivi no Cruzeiro. Aquilo me deixou chateado, mas entendo a parte da diretoria, do Felipão, de não ficarem satisfeitos, até porque o time ganhou. Nunca desrespeitei o posicionamento de ninguém, mas não deixo de me impor. Não teve nenhum atrito, briga.
Dedé, que disputou somente um jogo pelo Furacão, conta que o ambiente da Arena da Baixada aumentava seu desejo de entrar em campo e, por consequência, a frustração pela falta de oportunidade. O zagueiro relata que torcedores do Athletico perguntavam no estádio e nas redes sociais quando ele seria utilizado.
– Não tenho mágoa de ninguém, sou um cara bem tranquilo. São coisas do futebol. Única coisa que me chateou mesmo foi não ter oportunidade. Já estava naquele ambiente, parecia que estava há muito tempo lá, torcedor cobrava, perguntava. O presidente (Mario Celso Petraglia) até brincou uma vez sobre quando me veria jogando. Torcida ficava ali bem próxima no jogo. Aquilo ia mexendo comigo.
No momento, Dedé mantém a forma e busca uma boa oportunidade em 2023 para mostrar que ainda tem lenha para queimar. O sonho é voltar ao Vasco. Ele cita despedidas que o clube proporcionou a ídolos como Edmundo e Pedrinho.
– Eu tenho um carinho muito grande pelo Vasco, um legado de ter sido do último time a vencer uma conquista nacional, a Copa do Brasil de 2011. Cria aquele carinho diferente, dá aperto no coração quando o time é derrotado. Espero, sim, uma oportunidade de vestir a camisa novamente, mas, se não tiver, em relação ao carinho não vai mudar nada. Mas tenho, sim, um desejo. Vi despedidas muito bonitas do Edmundo e do Pedrinho, e eu podendo viver esse trajeto final, viver tudo aquilo que vivi na instituição e como torcedor do Vasco, seria um grande título para a minha carreira, uma grande vitória.
Quando não está treinando de olho na volta aos gramados, Dedé é visto no Recanto da Pirarara, um restaurante com lago de pesca esportiva em Pinheiral. Para o zagueiro, o hobby da pesca esportiva serve de impulso não só para o futebol, mas para a vida.
Dedé envolve toda a família no trabalho e aproveita para variar as iscas de pão e salsicha no seu lago, onde fisga pirararas, tambaquis, pintados, dourados, tilápias e traíras. O local funciona de quinta a domingo com o plantel padrão, e segundo os funcionários lota nos fins de semana. Na correria de eventos, Dedé entra no jogo.
– A gente faz alguns eventos, amigos de amigos, família de amigos, a galera se amarra, e aí a gente fica aqui na correria. Viro garçom, lavo prato, que diferença tem eu fazer? Parada é minha, tenho de ajudar também de alguma forma. Puxamos todo mundo para ajudar.
Fora de campo, o jogador também possui outros investimentos, como marca de roupas e diversos imóveis, e conta com auxílio de uma empresa especializada para ajudar no gerenciamento do seu patrimônio, a Angel.
– Tenho muitas pessoas que me ajudam com os negócios, principalmente amigos, mas pretendo viver um pouco fora do futebol. Viajar, pescar, curtir meus filhos, porque o futebol suga muito. Falo de uma forma positiva, o futebol me deu tudo, sou muito grato, mas suga muito. E eu vivi o pesadelo do futebol que foram as lesões. Isso foi muito desgastante. Eu tenho uma força diferenciada, mas desgasta muito e eu quero desligar um pouco mais desse futebol, já não sou muito ligado em assistir a jogo. Sou mais de viver a família, marido, pai, filho. E os negócios vão no dia a dia, a gente já se envolve.
Para o jogo desta noite, entre Cruzeiro e Vasco, dois clubes onde fez história, o zagueiro não arrisca palpite. Mas vê o time mineiro como favorito por jogar em casa e pela possibilidade de garantir matematicamente o acesso à Série A em caso de vitória. Também vê o Vasco na elite em 2023, mas nesta quarta, vê um jogo “muito difícil” para os cariocas.
– É difícil jogar contra o Cruzeiro no Mineirão. São dois times pelos quais tenho um carinho enorme, não tem como colocar para quem vou torcer, mas, vendo pelo lado de jogo, é muito difícil jogar lá no Mineirão. O Cruzeiro se ganhar tem o acesso, então acho que o jogo será bem difícil para o Vasco, por mais que tenha certeza quase absoluta de que o Vasco também vai se encaminhar para o acesso.
Confira a íntegra da entrevista com Dedé
Paz e forma física
– Esse aqui é o famoso Recanto da Pirarara, meu cantinho na nossa região, Pinheiral, onde fortaleço as energias. Certeza de que estão sentindo essa vibe. Aqui é só essa paz, barulho de bicho, galo cantando. Aqui é onde a gente recarrega.
– Por incrível que pareça, estou bem fisicamente, estou ajudando o máximo lá no Volta Redonda, é o que pedem para fazer principalmente em coletivo, perguntam algumas coisas, passo experiência para a galera. O trabalho lá tem me ajudado bastante no condicionamento físico, técnico. Faço treino de força, academia. Estou muito bem, me sentindo bem, percentual de gordura em nível bom, mantendo bastante coisa que peguei do Athletico-PR, que foi muito bom para mim em termos de ter grandes profissionais para auxiliar nesse condicionamento.
Expectativa e ano difícil
– Eu sou um cara muito dinâmico em todos os sentidos, acho que tudo isso refletiu minha carreira. A minha expectativa é retornar ao futebol bem no ano que vem, tentando avançar em um time que me abrace. Muitos me cobram até pela situação do Vasco, estão vivendo uma instabilidade, mas o Vasco está bem no meu modo de ver. Mas muito torcedor do Vasco me cobra por não voltar, então a gente cria expectativa e trabalha, não é? Quero retornar tendo condições de ajudar o clube que for. Certeza de que ano que vem será positivo. Esse ano foi difícil para o meu retorno por tudo que aconteceu, mas foi um ano de muito trabalho, passei pela Ponte Preta, pelo Athletico. Para o torcedor pode não ter sido tão bom, principalmente na Ponte.
– No Athletico não tive muita oportunidade, mas de treinamento foi muito bom, com excelentes jogadores, profissionais, me ajudou muito e hoje sei que tenho condições de voltar a mostrar bom futebol. Essa é a minha expectativa. Tiro 2022 como favorável, muito melhor do que 2021, espero que 2023 seja a caminhada para que encerre minha carreira jogando um bom futebol e que os que gostam de mim me assistam ainda com vitórias, e quem sabe títulos.
Copa do Brasil de 2011
– O título foi o maior troféu que tive no Vasco em todos os sentidos. Foi um momento muito importante, o título foi a situação mais marcante da minha carreira, meu primeiro título nacional jogando, tinha vivido a Série B em 2009. Em 2011, cheguei na Seleção, tivemos jogos que ficaram marcados como contra o Santos (Vasco 2 x 0 Santos pelo Brasileiro) e o Universitario (Vasco 5 x 2 Universitario-PER, na Copa Sul-Americana), que foi a primeira e única vez que fiz dois gols na carreira. Essas memórias ficam bem vivas.
Relação com Cruzeiro
– Tive bastante momentos legais no Cruzeiro também. Em 2013, foi um ano em que cheguei e conquistei bastante coisa. Primeiro o carinho do torcedor, o Brasileiro foi um título muito importante na minha carreira. Vendo o lado técnico, o Cruzeiro foi um dos melhores em que trabalhei, grandes jogadores.
– Em 2014, começaram as lesões, mas terminei o ano com status, grandes vitórias particulares, o título brasileiro, a final da Copa do Brasil de que não participei porque estava machucado. Depois foi a sequência de lesões, voltei em 2018, foi um ano em que retornei para a Seleção, conquistei a Copa do Brasil jogando, foi muito legal por tudo que tinha passado, ainda mais o Tite me colocando na pré-lista da Copa três meses depois de voltar da lesão. Foi bem marcante.
Cruzeiro x Vasco nesta noite
– Mesmo vendo a situação do Vasco em relação ao Londrina estar chegando perto, o Cruzeiro tem o acesso deles, sabendo que o Vasco depois terá uma chance maior. É difícil jogar contra o Cruzeiro no Mineirão. São dois times que tenho um carinho enorme, não tem como colocar para quem vou torcer, mas vendo pelo lado de jogo é muito difícil jogar lá no Mineirão. Ganhar para ter o acesso, acho que o jogo contra o Cruzeiro será bem difícil para o Vasco, por mais que tenha certeza quase absoluta de que o Vasco também vai se encaminhar para o acesso.
Palpite?
– Palpitar sobre resultado é difícil, será um jogo bem pegado. Jogo importante para ambos. A vantagem do Cruzeiro em relação ao fator casa é maior, mas o Vasco é guerreiro. Placar não consigo dizer.
Vasco sobe sem susto?
– Sem susto acho que não tem como, quem viveu no Vasco sabe que é raça, é uma história de luta, de guerra, sempre na batalha, mas acredito que o Vasco terá, sim, o acesso. Merece também.
Dedé fora do futebol
– Sou correria, meu dia é de bastante ocupação. Tenho marca de roupa, pesqueiro que estamos fazendo restaurante aqui. Adoro academia, malhar essas coisas, isso são coisas que já temos. Pensar em coisas como voltar ao futebol, ser diretor, treinador, ainda não consigo pensar. Muitos falam que entendo de futebol, taticamente, tenho jeito para lidar com os atletas, mas eu não penso em dar continuidade no futebol porque desgasta muito.
– Tenho muitas pessoas que me ajudam com os meus negócios, principalmente amigos, mas pretendo viver um pouco fora do futebol. Viajar, pescar, curtir meus filhos, porque além de ter sugado, de uma forma positiva, o futebol me deu tudo, sou muito grato, mas suga muito. E eu vivi o pesadelo do futebol que foram as lesões. Isso foi muito desgastante.
– Eu tenho uma força diferenciada, mas desgasta muito e eu quero desligar um pouco mais desse futebol, já não sou muito ligado em assistir a jogo. Outro dia estava vendo desenho e comentando com meu filho. Sou mais de viver a família, marido, pai, filhos. E os negócios vão no dia a dia, a gente já se envolve normalmente.
Fonte: ge