Perto do anúncio pelo Vasco, Pedro Martins faz balanço e se despede do Cruzeiro Sexta-feira, 26/04/2024 – 13:42 A caminho do Vasco, o executivo de futebol, Pedro Martins, se despediu do Cruzeiro. Ele citou a trajetória e a responsabilidade financeira que teve à frente do futebol cruzeirense. Disse ainda que entregou de “corpo e alma” ao clube.
Pedro Martins agradeceu nominalmente a Ronaldo Fenômeno, acionista de 90% da SAF, também a Gabriel Lima (CEO do Cruzeiro) e a Paulo André (diretor global do projeto de futebol de Ronaldo). Ele relatou, novamente, o que foi encontrado no clube mineiro quando a SAF iniciou o trabalho e um pacto realizado.
– O descaso com a estrutura e a gestão, a falta de respeito com os funcionários e a ausência de perspectiva futura nos assustaram tanto quanto o tamanho da dívida que foi deixada. Mesmo que de maneira informal e com uma “série de incêndios” para apagar, em Janeiro de 2022 foi feito um pacto: reconstruiríamos o clube através da premissa de que ninguém destruiria o Cruzeiro novamente, nunca mais.
Pedro Martins citou que a gestão sempre priorizou a reestruturação do Cruzeiro. Também disse que sempre Ronaldo Fenômeno pregou pela responsabilidade financeira.
– O ato de seguir um orçamento, de investir no longo prazo e de sempre brigar com a realidade financeira é um gesto de respeito ao Cruzeiro. O fato de priorizar o investimento em infraestrutura, de proporcionar condições similares de trabalho para todas as categorias de futebol do clube e recuperar a motivação no ambiente de trabalho, é um gesto de respeito às pessoas.
Pedro Martins admitiu que existiram erros no clube. Entretanto, citou que os mesmos nunca ultrapassaram os muros da Toca da Raposa.
“É inegável que esta trajetória teve erros e aprendizados fundamentais, o conforto é que este conhecimento fica dentro da Toca da Raposa”
Confira a nota de despedida de Pedro Martins:
Quando fui convidado por @Ronaldo @PauloAndre_00 e Gabriel Lima para trabalhar no @Cruzeiro me senti extremamente honrado e desafiado pelo cenário que nos esperava.
O clube que encontramos dentro das Tocas da Raposa 1 e 2 não representava o tamanho e a história desta instituição, o descaso com a estrutura e a gestão, a falta de respeito com os funcionários e a ausência de perspectiva futura nos assustaram tanto quanto o tamanho da dívida que foi deixada. Mesmo que de maneira informal e com uma “série de incêndios” para apagar, em Janeiro de 2022 foi feito um pacto: reconstruiríamos o clube através da premissa de que ninguém destruiria o Cruzeiro novamente, nunca mais. O respeito ao tamanho do clube viria por meio de sua organização, a ambição seria construída com responsabilidade financeira e racionalidade administrativa, o orgulho e a honra da nação azul não seriam mais impactados por páginas policiais.
Colocar este objetivo no papel é relativamente fácil, este discurso é até bonito para os apaixonados e para a imprensa. Ele conecta, engaja e inicialmente até gera sócios torcedores. Executar esta tarefa exige uma resiliência tremenda, um desprendimento de interesses pessoais e conectar gente absurdamente competente. A beleza do futebol está na paixão, na instabilidade e no imponderável deste jogo. Por mais contraditório que seja, estamos sempre buscando uma resposta certa para a vitória, o caminho mais curto para o sucesso ou remédio rápido para diminuir a dor.
Dentro das incertezas que apareceram durante todos estes anos, sofrendo com a dor de derrotas e eliminações, optamos sempre pela beleza do futuro. A sustentabilidade deste clube é o único caminho possível para o sucesso constante.
O ato de seguir um orçamento, de investir no longo prazo e de sempre brigar com a realidade financeira é um gesto de respeito ao Cruzeiro. O fato de priorizar o investimento em infraestrutura, de proporcionar condições similares de trabalho para todas as categorias de futebol do clube e recuperar a motivação no ambiente de trabalho, é um gesto de respeito às pessoas. As palavras projeto, processo e planejamento já foram mal interpretadas algumas vezes no futebol, mas não há nada mais poderoso do que gente competente trabalhando em prol de um sonho em comum. Isso nós conseguimos construir, fato raro nesta indústria imediatista.
A união de vidas, de crenças e valores fez com que o Cruzeiro conseguisse derrotar adversários que vão além do campo, ela modernizou pensamentos, quebrou paradigmas e diminuiu o abismo financeiro que existe perante os competidores. É inegável que esta trajetória teve erros e aprendizados fundamentais, o conforto é que este conhecimento fica dentro da Toca da Raposa. Não há nada mais forte do que uma instituição que aprende e ensina, isso vai além de nós passageiros.
Estou de saída para um novo clube, mas gostaria de agradecer a oportunidade de ter tido o Cruzeiro na minha vida. Não sinto orgulho somente pelas conquistas desportivas, mas por entender que me entreguei de corpo e alma à uma história sensacional.
A trajetória de Pedro Martins no Cruzeiro
Único diretor executivo de futebol do Cruzeiro na SAF de Ronaldo, Pedro Martins encerra a passagem pelo clube após dois anos e quatro meses. Trajetória marcada por reformulações no elenco, muitas trocas de técnicos, pressão da torcida e o acesso à Série A com o título da Série B do Brasileirão.
Pedro Martins passou por um processo seletivo no Cruzeiro, mesmo tendo trabalhado com Paulo André no Athletico-PR. O gestor estava na Federação Paulista de Futebol, antes de chegar à Toca da Raposa, e também acumula passagem pela Ferroviária-SP.
O diretor de futebol trabalhou com a reformulação do Cruzeiro em meio à chegada da SAF, ao lado de Paulo André e Gabriel Lima (CEO) – dentro da administração atual do clube, a diretoria executiva tem papel menos centralizador do que em outros clubes.
No primeiro ano de trabalho do grupo à frente do Cruzeiro, houve duas saídas polêmicas, que causaram pressão por parte da torcida. O goleiro Fábio, prestes a completar 1.000 jogos pelo clube, não teve o contrato renovado pela SAF, em janeiro de 2022. Houve protesto na porta da Toca da Raposa, mas com cobranças direcionadas a Ronaldo e Paulo André.
Três meses depois, foi a vez de Vitor Roque deixar a Toca da Raposa de forma conturbada. O atacante, considerado a principal joia da base do Cruzeiro, teve a multa rescisória paga pelo Athletico-PR, após não chegar a acordo de renovação contratual. O nome de Pedro Martins foi citado pelo empresário do jogador como um dos responsáveis pela saída. Os clubes travam batalha na CNRD.
Desde o primeiro ano de gestão da SAF, a diretoria de futebol do Cruzeiro, com Pedro Martins presente, realizou muitas contratações. Desde que ele chegou à Toca da Raposa, 68 jogadores foram contratados pelo clube, sendo 36 em 2022, 26 em 2023 e dez na atual temporada.
Apesar do discurso da SAF favorável a trabalhos a longo prazo de treinadores, a gestão de futebol ficou marcada pelas trocas de comando desde 2022. Neste período, cinco técnicos (Paulo Pezzolano, Pepa, Zé Ricardo, Larcamón e Fernando Seabra) foram contratados com participação de Pedro Martins, além de Fernando Seabra e Paulo Autuori terem comandado o time de forma interina no fim do Brasileiro de 2023.
Com Pedro Martins à frente da diretoria executiva, o Cruzeiro teve como ponto alto a conquista da Série B de 2022. No ano passado, apesar das dificuldades ao longo do Brasileirão, o time atingiu os objetivos: permanecer na elite e conquistar vaga na Conmebol Sul-Americana.
As críticas da torcida em relação a Pedro Martins estão direcionadas principalmente às contratações feitas desde 2022. Nesta semana, o diretor teve o rosto estampado em um protesto realizado por cruzeirenses na porta do Mineirão. “Três patetas e um gordão”, dizia um dos cartazes, com fotos de Pedro, Paulo André, Elias e Ronaldo Fenômeno.
Fonte: ge