Apesar de todos esforços para evitar a quarta queda, a realidade se impõe. O possível cenário de queda para a Série B consolidada no próximo final de semana, com eventual vitória do Bahia e não vitória do Vasco, força os novos dirigentes de São Januário a se debruçarem nas contas. Desde que tomou posse há 28 dias, a administração Jorge Salgado prioriza a fuga do rebaixamento no Brasileirão, o que adiou o pontapé inicial de medidas planejadas nas mais diferentes esferas.
Um grupo de trabalho, atualmente, se divide em quatro ações, para traçar cenários para a queda – mesmo que mantenha a confiança no trabalho da comissão técnica e dos jogadores. O resumo é: caso a disputar da Série B pela quarta vez vire realidade, a redução de receita obrigará uma readequação não só esportiva, mas também administrativa.
Não é segredo que o momento financeiro do Vasco é grave, com constantes atrasos salariais, penhora de receitas e dificuldade extrema em reforçar o elenco. Porém, o buraco será ainda mais fundo em caso de queda. Por ora, a previsão não tem um valor exato, mas estima-se uma enorme redução nas receitas. Só em direitos de transmissão, a conta bateria em pelo menos R$ 50 milhões, segundo estimativa de Rodrigo Capelo, jornalista especializado em finanças do esporte.
– Na Série A, é um valor variável de aproximadamente R$ 80 milhões por ano. Na Série B, o Vasco teria de escolher entre o recebível de pay per view ou cota fixa de R$ 8 milhões. Podemos tomar como base o Botafogo em 2019: teve R$ 20 milhões. O Vasco certamente terá mais e certamente vai optar pela cota do pay per view. Agora, a queda é significativa: de R$ 80 milhões para talvez uns R$ 30 milhões anuais com direitos de transmissão. Um valor bastante relevante – explica Capelo.
Esse número, no entanto, tende a ser ainda maior se levada em consideração bilheteria (desde que o público tenha presença liberada – orçamento prevê R$ 3,8 milhões), quadro social e patrocínios. No fim de dezembro, o Conselho Deliberativo aprovou o orçamento de 2021, elaborado pela gestão do agora ex-presidente Alexandre Campello, com previsão de receita líquida de R$ 342 milhões – em caso de queda, teria de ser ajustado até porque o regulamento não prevê pagamento de premiação, só os variáveis referente aos direitos de transmissão.
O antigo mandatário, em diferentes entrevistas, revelou que a folha salarial do futebol era de R$ 4 milhões mensais e o custo do clube a cada mês, R$ 12 milhões. O Bahia, concorrente contra o Z-4, previu R$ 63 milhões a menos caso vá para a Série B.
– É claro que o cenário ideal para ao Vasco é não cair para a Série B. Não somente por manchar a história do clube, mas por uma questão de subsistência. Perder faturamento, na atual condição do clube, com o endividamento, é muito complicado. Terá de adequar o elenco à Segunda Divisão, mas ainda há compromissos assumidos com o orçamento de Série A. É uma readequação muito severa – analisou Rodrigo Capelo.
Em recente entrevista, Salgado revelou que a dívida vascaína é de R$ 720 milhões. O balanço da temporada 2020 ainda não foi publicado, o que deve ocorrer em abril.
Duas folhas salariais pagas rapidamente
Ao evitar manifestações públicas sobre os efeitos de um eventual rebaixamento, a direção trabalha em busca de soluções. Em menos de um mês, duas folhas salariais foram pagas a jogadores e funcionários. O débito atual é referente a dezembro e 13º de 2020 – o mês de janeiro venceu no último dia 5, mas, em acordo verbal, as partes consideram o dia 20 como data de pagamento.
O trabalho dos dirigentes, então, está assim dividido:
– Conclusão do Plano de 100 dias
– Criar a estrutura para a transmissão própria de jogos do Carioca 2021
– Implementação do Plano de 15 dias para evitar o rebaixamento
– Planejamento para eventual queda à Série B
Logo após a posse, Salgado planejava divulgar um Plano de 100 dias, com ações da nova administração. A situação na tabela obrigou uma mudança. Entrou em cena o Plano de 15 dias, para evitar a queda.
Neste contexto, temas como a captação de recursos parou. Na campanha, o presidente chegou a afirmar que tinha 1/3 de R$ 70 milhões já garantidos. O momento é de formatar o produto e esperar o resultado de campo, afinal, os direitos de transmissão seriam usados como garantias.
O certo é que, caso o rebaixamento se confirme, o Vasco passará por uma reforma administrativa. O clube irá ter de readequar orçamento, o que significará o corte de gastos. Inclusive com demissões.