Ex-zagueiro Tinho relembra jogos contra o Urubu e alerta: ‘O Vasco não pode ficar mais um ano na Série B’

Ex-zagueiro Tinho relembra jogos contra o Urubu e alerta: ‘O Vasco não pode ficar mais um ano na Série B’ Domingo, 06/03/2022 – 11:43 Wellington Feitosa Queiroz, o Tinho, nasceu em Campos dos Goytacazes, mas chegou cedo a São Januário. O ex-zagueiro morou por dois anos no clube e logo foi alçado aos profissionais, onde atuou ao lado de feras da bola. Estreou em 1992 e, nos anos seguintes, ganhou um tricampeonato perseguido há tempos pelo Cruz-Maltino.

Hoje, aos 51 anos, completados no final de fevereiro, o ex-jogador revela situações vividas no seu tempo, conta uma experiência pessoal que teve cara a cara com Eurico Miranda e revela sua expectativa em relação ao futuro do time da Colina. “O Vasco não pode ficar mais um ano na Série B. É time para disputar títulos, estar sempre no topo”.

Tinho foi zagueiro do Vasco nos anos 90 e levou o Carioca três vezes – Juha Tamminen

JOGADA 10 – Teremos um Vasco x Flamengo, neste domingo (5/3), pelo Estadual. Deste clássico, qual não sai da sua memória?

TINHO – “Marcantes, para mim, foram aqueles dois jogos na fase final do Brasileiro de 1992, quando o nosso goleiro, o Régis, teve duas infelicidades e fomos eliminados. Foi muito triste, porque tínhamos o melhor time do campeonato. Era o meu primeiro Brasileiro pelo Vasco. O Torres e o Jorge Luís formavam a zaga, mas se machucavam direto. Fui alçado ao time principal e estreei, inclusive, marcando gol no Botafogo. Mas perder para o Flamengo e dar adeus àquele título nos tirou do eixo. O elenco era fortíssimo: Edmundo, Geovani, Bismarck, William, Luisinho… Não merecíamos. Deu tudo errado. Na despedida, contra o São Paulo, nossa torcida pediu para entregarmos o jogo, mas somos profissionais e não fizemos isso. Metemos 3 a 0 neles, que no fim do ano foram campeões do mundo sob o comando do Telê Santana. O problema é que esse resultado colocou o Flamengo na decisão. E o time rubro-negro, que não era tido, até então, como uma das principais forças, acabou crescendo na hora certa e ganhou do Botafogo na final.”

JOGADA 10 – Se teu jogo mais marcante gera essa tristeza, como está sendo acompanhar o Vasco hoje em dia?

TINHO – “Pelo amor que tenho pelo clube, pelos anos todos que fiquei lá, vejo com muita preocupação o momento atual. O time está todo reformulado, em relação a 2021. Isso me preocupa. A equipe ainda está sendo montada, pegando entrosamento. Não fomos bem nos últimos clássicos, contra Botafogo e Fluminense, mas seguimos na torcida. É um ano decisivo para o clube e o Vasco não pode continuar mais uma temporada longe da elite. Torço para que monte um time forte e competitivo. Tem que esquecer o Campeonato Carioca e focar na Série B. É preciso se entrosar rapidamente, até porque o clube já percebeu que não é fácil voltar. É muito triste ver essa situação, principalmente pela grandiosidade do Vasco. Mas não dá para permanecer mais um ano fora da Série A. Em 2023 temos que estar na Série A.”

JOGADA 10 – Você já disputou alguma vez a Série B?

TINHO – “Sim. Disputei uma única vez, pelo Santa Cruz, depois que retornei da Arábia e peguei meu passe com o Vasco. Acabamos sendo vice, o campeão foi o Goiás. Subimos de primeira, e isso foi bacana, porque o clube estava há 12 anos sem conseguir voltar. Minha única experiência em Série B, posso dizer, foi bem-sucedida. Me orgulho disso.”

JOGADA 10 – Como era o ambiente do Vasco na sua época?

TINHO – “O melhor possível. Tínhamos jogadores excelentes que já vinham de uma boa caminhada na base. Aquela geração que começou com Bismarck, Wlliam, França, depois Carlos Germano, marcou a história do clube. Foi quase uma década formando jogadores de qualidade. Quando saí dos juniores, por exemplo, me senti em casa nos profissionais. Até porque já conhecia todo mundo. Ainda havia jogadores rodados e experientes, como Alexandre Torres, Ricardo Rocha, Luiz Carlos Winck. Muitos tinham identificação com o clube. Mesmo eu, que saí de Campos aos 18 anos, morei em São Januário por dois anos. Isso gera carinho pelo clube, a gente está por ali todos os dias. O Leandro Ávila é outro: ficou uns dez anos no Vasco. Além disso, todos temiam a gente. O Vasco era gigantesco. Minha geração perdeu o Brasileiro de 1992, mas logo buscamos um tricampeonato carioca (1992, 1993 e 1994) que o clube não ganhava há anos. E ainda levantamos a taça do Brasileiro de 1997.”

JOGADA 10 – Conta alguma boa história de bastidores dessa época.

TINHO – “Tenho uma entre mim e o Eurico. Operei o joelho em 1997 e, por isso, participei apenas de um jogo do Brasileirão daquele ano. Na temporada seguinte, Eurico me chamou na sala dele, acendeu um charuto e me passou uma situação visando acelerar a minha recuperação, até porque o Vasco já estava com a zaga montada, com Odvan e Mauro Galvão. Ele avisou que me mandaria para o Americano, de Campos, para eu ser titular e voltar bem. Falou para eu ficar tranquilo, porque quem me pagaria seria o Vasco, não o Americano. Dei ok para ele dizendo: “No senhor eu confio!” Fiz um bom Carioca no Americano e voltei. Mas logo pintou uma proposta de fora e fui para o Al-Ahli, de Jeddah, na Arábia Saudita. Quando fui avisar ao Eurico, tivemos uma conversa franca. Porque com ele era papo reto: se dá, dá; se não dá, não dá. Ele sempre foi muito prático nas suas resoluções. Expliquei que o melhor para mim era ele me liberar sem cobrar pelo empréstimo, que eu me viraria só com os salários que receberia por lá. Se o Vasco cobrasse, certamente inviabilizaria a minha ida. Coloquei tudo na mesa e ele me disse que fui muito coerente ao dizer, no começo do ano, que confiava nele. Por isso ele me liberaria, sim, por um ano, e sem nada cobrar. Ele entendeu que, por eu não ter jogado o Brasileiro de 1997, acabei perdendo dinheiro. Autorizou a minha saída, porém exigiu que o Al-Ahli fizesse um seguro de seguro de vida para mim no valor de 1 milhão de dólares, para o caso de, se algo acontecesse comigo naquele país, tal valor seria imediatamente revertido para a minha família. Eurico era um paizão, protegia todo mundo que fechava com ele.”

JOGADA 10 – Como você vê essa possível chegada da SAF (Sociedade Anônima no Futebol) no Vasco?

TINHO – “É um caminho que alguns clubes estão trilhando e tem tudo para dar certo. Contudo, sabemos que o Vasco tem uma cultura diferente, é um clube mais burocrático. Ele é diferente dos outros clubes do Rio de Janeiro. Mas, particularmente, enxergo como uma solução. Ainda mais em meio a tantos problemas financeiros que alguns clubes estão passando, como Botafogo, Cruzeiro, o próprio Vasco. É uma solução, sim, porque se houver uma boa negociação, pode até zerar a dívida e tornar o clube financeiramente viável para montar grandes times. Minha expectativa é essa. Vejo que o Vasco precisa voltar ao topo. É clube para brigar por títulos, disputar Libertadores. Espero que volte logo a esse patamar de competitividade, tanto nacional quanto internacionalmente.”

JOGADA 10 – E em relação ao time atual, o que você pode dizer da zaga que vem se desenhando com o Zé Ricardo?

TINHO – “Até agora, parei apenas para ver um jogo do Vasco e senti que o time ainda precisa de ajustes, está longe de ser uma equipe entrosada. Particularmente, dos zagueiros, conheço o Anderson Conceição. Mas em relação à zaga em si, é questão de o Zé Ricardo conhecer o grupo, achar sua dupla predileta e entrosá-la. Ele tem condições de fazer isso e sei que vai ajustar o sistema defensivo. Agora, só nos resta torcer para que não somente a zaga, mas também o meio e o ataque se tornem efetivos. Quero ver o Vasco fazendo bonito em 2022.”

Tinho foi zagueiro do Vasco nos anos 90 e levou o Carioca três vezes

Fonte: Jogada 10

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