Então lateral do Vasco, Pedrinho relembra como foi ficar entre os reservas durante a Copa de 1982 Segunda-feira, 25/07/2022 – 03:29 Quanto tempo leva para uma ferida cicatrizar? Quando o assunto é a Seleção Brasileira na Copa de 82, a pergunta é outra: nós queremos que essa ferida cicatrize? As evidências comprovam que não. A Copa terminou há quarenta anos, Brasil e Itália foram campeões mundiais depois daquele jogo (o Brasil, duas vezes; a Itália, uma), mas a partida disputada no dia 5 de julho de 1982 ainda não terminou para torcedores, jornalistas, e, principalmente, para os jogadores brasileiros que fizeram parte daquele história.
Para os coadjuvantes, as emoções são ainda mais especiais. Qual é a sensação de ser esquecido num time inesquecível? Quarenta anos depois, o Esporte Espetacular deu voz aos reservas do time de Telê Santana. Alguns jogaram poucos minutos na Copa, outros viram os jogos da arquibancada, sequer ficaram no banco. Estavam, ao mesmo tempo, perto e longe de um sonho – um lindo sonho, enquanto durou.
– A frustração é para todos, pra quem jogou e para quem não jogou – define o volante Batista, que também disputou a Copa de 78 na Argentina.
Espetáculo ou competição?
A derrota para a Itália em 82 inaugura uma polêmica sem fim: qual é a forma mais segura de ganhar uma Copa? O gosto amargo da desclassificação na Espanha deixou a incômoda sensação de que é necessário fazer uma escolha: dar show ou ser mais pragmático e competitivo?
– Essa é a grande dúvida de todos. Vale a pena você abdicar da sua técnica pra jogar feio, para poder ganhar? Futebol é conhecido pelos vencedores, né? Mas aí eu abro aspas: aquela seleção não venceu, mas é considerada no mundo como uma boa seleção, né? – lembra o goleiro Paulo Sérgio,” titular” do banco de reservas nos cinco jogos da Copa.
– O time era muito técnico. Mas no contexto de um campeão, você tem que ter outros argumentos também – diz o zagueiro Edinho, que disputou três copas seguidas (78, 82 e 86).
Os dois títulos conquistados posteriormente, em 1994 e 2002, jogaram mais lenha na discussão sobre a melhor receita de vitória.
– Talvez para disputar um torneio, uma Copa do Mundo, você tem que valorizar um pouquinho mais atrás. Foi assim que o Brasil ganhou depois, né? – lembra o meia Renato, ex-Guarani e São Paulo, reserva de Zico em 1982.
Outro zagueiro reserva, Juninho Fonseca (ex-Ponte Preta, Vasco e Corinthians), acha que fórmula para a vitória em uma Copa do Mundo é o equilíbrio.
– Por mais que a indicação da comissão técnica abrisse a perspectiva de que ganharíamos pelo número de gols que fazemos, eu sei que às vezes nós ganhamos pelo pouco número de gols que tomamos. Tem horas que você tem que ir atrás do resultado, independente do seu desempenho. O resultado, às vezes, lhe obriga a quebrar alguns protocolos.
Que protocolos deveriam ser quebrados? Jogar feio? Marcar mais de maneira mais efetiva? Fazer mais faltas?
– Era um time leve, que não sabia fazer falta. Por que o Brasil não jogou igual a Itália? O Brasil não sabia jogar assim. Os jogadores que estavam em campo não sabiam jogar assim. Já viu o Falcão dar um carrinho? Luisinho não sabia dar uma pancada em ninguém. Era de posicionamento – lembra Paulo Sérgio, que hoje é apresentador e comentarista na TV Gazeta em Vitória (ES).
O boato que virou verdade
Os que defendem uma Seleção de 82 mais fechada, pragmática, especialmente na partida contra a Itália, são quase unânimes ao citar um jogador: faltou o Batista no banco. O ex-volante de Inter, Grêmio, Palmeiras e Lazio (Itália) sabia marcar e jogar. Ele fora um dos personagens do jogo anterior, a vitória de 3 a 1 sobre a Argentina: logo após entrar no lugar de Zico, sofreu uma falta violenta de Maradona, que foi expulso.
Há quarenta anos Batista desmente um boato: o de que não ficou no banco contra a Itália por causa da entrada violenta do craque argentino. Batista assegura que tinha totais condições de jogo.
– Quem veio conversar comigo na manhã do jogo e perguntar se eu estava bem foi o Gilberto Tim, preparador-físico. Ele me disse: “O Telê quer fazer o banco e queria saber como você está”. Eu brinquei com o Tim: “Olha, se ele quiser eu posso até sair jogando. Zero bala”. Por esse papo do Tim comigo, eu pensei: “Pelo menos no banco eu estou”. Quando eu vi, na hora, o meu nome não constava. Bah…Frustração de novo – recorda Batista.
– No meu entendimento, o Batista deveria ter ficado no banco e deveria ter entrado no jogo. Não estou defendendo ele, não – disse Juninho.
Legado e reconhecimento
O fato é incontestável: a Seleção Brasileira de 82 é mais lembrada do que algumas seleções campeões mundiais. Embora não tenha escapado das muitas revisões táticas durante esses quarenta anos, ainda persiste como sinônimo de futebol bonito.
– Dava prazer de ver o time jogar. O time jogava alegre. Sabe quando você arruma a galera e vai bater uma pelada? Com os amigos? Jogar do lado de quem sabe jogar é a melhor coisa que tem, cara – recorda Paulo Sérgio.
O time que não ganhou o Mundial da Espanha já foi citado por treinadores como Pep Guardiola.
– Os que gostam de jogo jogado se inspiraram naquela seleção – recorda Edinho, que logo depois da Copa se transferiu para o futebol italiano, para defender a Udinese.
– Estamos falando sobre isso porque aquele momento foi especial e continuará sendo especial – ressalta o lateral Pedrinho Vicencote, reserva de Junior na Espanha.
Juninho resume o sentimento de gratidão pelos momentos de alegria que foram interrompidos pela derrota daquele 5 de julho no Estádio do Sarriá.
– Fizemos uma coisa leve. Fizemos uma coisa que parece com o Brasil. A verdade é que não tem importância que não ganhou. Provavelmente o jogo que jogamos foi um jogo parecido com o que é o brasileiro.
Fonte: ge
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