Diretor Paulo Roberto Santos fala sobre o Colégio Vasco da Gama Terça-feira, 23/04/2024 – 12:49 – Não é um colégio normal.
Essa foi a frase do diretor Paulo Roberto Santos para definir as características do Colégio Vasco da Gama, que completou 20 anos em 2024. E, de fato, a escola não é igual às demais. Não satisfeita em ser a primeira dentro de um clube, ela tem outros diferenciais: ex-alunos famosos, horários e regras que se adaptam à rotina dos atletas e a possibilidade de assistir a um jogo de Champions League no horário da aula.
Diretor e professora do Colégio do Vasco explicam a abordagem individualizada de alunos
Desde a inauguração, em março de 2004, essa era a proposta: facilitar a rotina dos jovens esportistas, que precisam dividir os estudos com as carreiras. Para que eles tivessem no mesmo complexo estudo, moradia e treinamento. O colégio viveu muitas fases e, hoje, tem uma direção que traz novos rumos, com foco no esporte e no cuidado individual.
A instituição acolheu mais de cinco mil esportistas ao longo de sua história e atende atualmente 140 alunos, do 6º até o 3º ano do Ensino Médio. A única restrição para estudar lá é ser um atleta do Vasco da Gama. A escola aceita todas as modalidades, mas o maior contingente é de homens jogadores do futebol; mulheres são apenas duas, ambas da natação e do sétimo ano.
Gestão
O colégio fica dentro do complexo de São Januário, ao lado da capela e tem logo na entrada uma vista privilegiada para o campo do estádio. A administração faz parte da alçada do clube associativo, presidido por Pedrinho, mas a parte financeira é restituída pela SAF da 777 Partners.
Como toda escola, ela conta com professores das matérias de uma grade curricular tradicional, funcionários de manutenção e do administrativo. Em relação ao corpo docente, o diretor brinca que ser vascaíno não é um pré-requisito, mas “é bom, pois facilita a identificação com a nossa história”.
Colégio Vasco da Gama fica ao lado da capela de São Januário e bem em frente ao campo de futebol — Foto: Isabela Reis |
Paulo Roberto deixou a direção de uma escola do Estado do Rio para assumir o Colégio Vasco há um ano. Com ele, as instalações passaram por uma reforma e em breve também estarão munidas de estúdio e sala de TV. A ideia é que o ambiente fique cada vez mais confortável e convidativo para estar na rotina dos alunos, para muito além de um ambiente de aulas e provas.
Em 2019, o ge noticiou que o Colégio Vasco da Gama passava por uma crise financeira, com greve dos professores, salários atrasados e falta de material. Perguntado sobre o momento atual das contas, Paulo garante que a escola não tem mais saldos negativos e que o problema já ficou “desbotado na memória”.
Ensino individualizado e olhar para o futuro
Uma das características principais da escola é o acolhimento, segundo a professora de Língua Portuguesa Etiene Oliveira. Isso porque faz parte da rotina receber atletas dos mais diferentes lugares, muitos vindos sozinhos de fora do Rio atrás do sonho de construir uma carreira no Vasco.
Entre os estudantes, alguns moram nos alojamentos do clube, com a restrição de ter no mínimo 14 anos, mas todos recebem um olhar especial para facilitar a adaptação.
Assim que chegam, passam por uma avaliação para que a escola entenda as necessidades, as dificuldades e a realidade de cada um. A partir daí e da conversa com a família, a escola se reúne para desenvolver o melhor método para o aluno, incluindo aulas individuais, caso necessário.
Outro diferencial importante do colégio, no olhar dos coordenadores, é a preocupação com questões que estão em debate na sociedade. Etiene explica que o objetivo é que pautas sociais importantes e que fazem parte da história do Vasco estejam na rotina dos alunos e não apenas em datas comemorativas.
Um dos papos mais recentes nas aulas foi sobre apostas esportivas. O colégio vê como essencial que os estudantes, por também serem profissionais do esporte, entendam a complexidade por trás do tema e reflitam sobre a decisão de participar desses jogos, mesmo que ainda estejam na base.
– Olhamos para os meninos com uma perspectiva de futuro. Sei que o colégio tem 20 anos e a gente olha para trás com orgulho, mas quero que comecemos a pensar para frente. O que queremos para o Vasco e para a escola daqui para frente? – questiona o diretor Paulo Roberto.
Didática esportiva
Não é em toda escola que 100% dos alunos são atletas. Por isso, o colégio busca incluir o esporte à rotina e ao material que é trabalhado, em especial o futebol, por ser maioria nas carreiras.
– Se o menino vai entender a geografia da Europa, eu quero que ele entenda a partir da Champions League, a partir das ligas europeias. Se a professora de Português vai fazer a análise de um texto, eu quero que use do Nelson Sargento, que é vascaíno e que fala de comunidade. Se o professor de Matemática vai resolver um problema, que use a capacidade do Estádio de São Januário, os números, as fotos – contou Paulo.
Sala de aula do 2º ano do Ensino Médio do Colégio Vasco da Gama — Foto: Isabela Reis |
A instituição permite algumas flexibilizações que não são vistas em qualquer rede de ensino. Como em dias de jogos de Champions League, um dos maiores campeonatos do mundo, em que algumas aulas são paralisadas para que os alunos possam assistir à partida, ou a possibilidade de ir de chinelo, sem tênis, quando o atleta realizou algum treino de força mais intenso.
Ou se houve algum evento especial ou diferente na agenda, como a estreia no time profissional ou um jogo muito cansativo, datas de provas são realocadas para que o aluno consiga estar preparado e concentrado. Afinal, não há interesse da coordenação que um estudante reprove no final do ano letivo porque não conseguiu cumprir os requisitos devido aos trabalhos como jogador.
O diretor explica que não são “mordomias”, mas sim um entendimento de que aqueles estudantes não são apenas alunos tradicionais, são profissionais do esporte. E que a escola pode ajudá-los a tornar um pouco mais leve a dura e longa rotina.
O colégio também está desenvolvendo um material exclusivo que coloca o esporte e o Vasco como temáticas centrais das matérias da grade curricular. O objetivo é que os alunos entendam os conteúdos a partir da realidade que vivem e consigam fazer associações para facilitar o aprendizado.
Colégio Vasco da Gama utiliza as temáticas esportivas em prévia de material para o 6º ano — Foto: Reprodução |
A ferramenta pedagógica que está em desenvolvimento irá tratar do esporte como um todo e promete não ignorar outros ídolos do futebol, mas “terá um protagonismo de Roberto Dinamite e de outros personagens da história do Vasco”.
Do colégio para o mundo
Em meio a tantos alunos que já passaram pelas salas do Colégio Vasco da Gama, alguns rostos são bastante conhecidos no mundo do futebol.
Philippe Coutinho fez o terceiro ano do Ensino Médio no Colégio Vasco da Gama — Foto: Isabela Reis |
Alex Teixeira, Allan Kardec, Souza, Paulinho, Douglas Luiz, Phillipe Coutinho, Jordi, Gabriel Félix, Alan Cardoso, Henrique, Luan Garcia, Marlon Gomes, Andrey, Eguinaldo, Bruno Gallo, Guilherme Costa, Mateus Vital e Talles Magno são só alguns nomes da grande lista.
No dia do aniversário de 20 anos do colégio, inclusive, três desses participaram de uma homenagem à instituição nas redes sociais do clube.
Certificado de conclusão do Ensino Médio de Andrey Santos, ex-aluno do Colégio Vasco da Gama — Foto: Isabela Reis |
A professora Etiene deu aula para Talles Magno, Eguinaldo e JP, que estreou pelo profissional na vitória sobre o Grêmio, por 2 a 1, na primeira rodada do Brasileirão. Ela conta que viu de perto a rapidez com que a vida dos meninos se transformou – em um dia eram alunos e no outro estavam disputando a principal competição do país.
Douglas Luiz, jogador do Aston Villa, foi estudante do Colégio dentro das dependências do Vasco — Foto: Isabela Reis |
No caso de Talles, por exemplo, Etiene lembra que ele perdeu muitas provas seguidas devido às viagens que fez com o time principal, assim que foi promovido da base. A solução foi que fizesse todos os testes juntos, um atrás do outro, para que conseguisse cumprir os deveres com a escola e não perdesse outros compromissos com o elenco.
O colégio também se preocupa em cuidar da saúde mental dos atletas, para que não se deslumbrem e entendam a difícil realidade das carreiras esportivas, em que muitos não atingem o sucesso. Uma das alternativas proposta pela instituição é o incentivo para que os alunos façam o vestibular e saibam que existem outras possibilidades para suas vidas.
Fonte: ge