Empresário lembra insistência de Eurico em contratar Dener: ‘Queria ele de qualquer maneira’ Quinta-feira, 18/04/2024 – 14:46 O dia 19 de abril marca 30 anos da morte que abalou o futebol brasileiro. Aos 23 anos, Dener Augusto de Souza morreu em acidente de carro na Lagoa Rodrigo de Freitas, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Era reta final do Campeonato Carioca de 1994.
Documentário sobre o Dener
Craque da Portuguesa, camisa 10 do Grêmio e do Vasco, com passagens na Seleção, Dener era alvo do Stuttgart, onde Dunga jogava à época. A imprensa então noticiava que o acordo havia sido fechado justamente em jantar de véspera da ida de Dener para o Rio de Janeiro – foi no fim daquela viagem, a 15 minutos de chegar em casa, que o motorista dormiu no volante e provocou o acidente que matou Dener.
De fato, um diretor importante do Stuttgart estava no Brasil e se encontrou com Dener em São Paulo. Por isso todas as notícias da época. Mas não havia acordo selado.
Relembre a história do fenômeno Dener, que morreu em um acidente de carro há 25 anos
– O que existia era um princípio de negociação, não tinha contratos assinados, um “shaking hands” (aperto de mãos) – afirma Marcel Figer, filho do famoso agente Juan Figer.
Marcel, de 57 anos, trabalhou ao lado do pai até a morte de Juan Figer em 2021. Cinco anos mais velho do que Dener, era quem tinha relação mais próxima com o jogador que encantou Maradona em 1994, na pré-temporada do Vasco: “Eu me encontrei com Maradona em Buenos Aires, logo depois do confronto com o Newell’s, e ele me contou que se impressionou com o Dener”.
– Eu te digo uma coisa: quem mais desejava ficar com o Dener era o Vasco. O Eurico Miranda falava para a gente assim, diariamente: “Olha, de alguma maneira, vou contratá-lo”. Queria ele de qualquer maneira – recorda Marcel Figer.
O preço do passe de Dener era conhecido no mercado: US$ 3 milhões. Valor muito alto para clubes brasileiros – antes da negociação com o Vasco, o Corinthians chegou a alinhavar acordo de US$ 2 milhões e mais cinco (!) jogadores -, mas também para o futebol internacional. O Stuttgart começava a discutir os valores para encaminhar proposta. O Vasco pagou pelo empréstimo 350 mil dólares – o Grêmio, um ano antes, conseguiu empréstimo gratuito de Dener.
Eurico sabia que Dener era um jogador disputado depois do segundo empréstimo – no primeiro semestre de 1993, ele foi campeão estadual e finalista da Copa do Brasil com o Grêmio. Movimento que se repetiu no Vasco, que terminaria (tri)campeão carioca com Jardel na vaga de Dener.
– A possibilidade do Stuttgart era real, não era só especulação. Ia fazer proposta, mas tinha que esperar terminar um empréstimo dele pro Vasco. Ainda era abril, naquela época não se decidia com tanta antecedência como hoje. Mas eu imagino que ia ser bem conturbado, porque no Vasco tinha o Eurico, que era muito hábil. Não sei como ia terminar isso daí – conta o agente.
– Eu acho que Eurico ia fazer de tudo para ter o jogador.
“Dener não tinha medo de nada”
Apesar do sonho da seleção brasileira, a Copa de 1994 era realidade distante de Dener. Convocado no processo de renovação de Paulo Roberto Falcão em 1991, o jogador fez dois jogos pela Seleção principal e nove no Pré-Olímpico – com Ernesto Paulo, quando o Brasil não se classificou. Na disputa no Paraguai, lembra Marcel, um tal de Faustino Asprilla também se encantou com Dener e pediu a camisa do pequenino e hábil craque brasileiro.
Mas numa época em que a internacionalização de transmissões engatinhava – com jogos na TV aberta apenas do campeonato italiano -, a vitrine vascaína, então com poderio financeiro superior aos rivais cariocas, servia de argumento para a diretoria do clube de São Januário.
– Falava para ele, você deixando esse Maracanã do jeito que você deixa, tua chance de seleção brasileira é muito grande. Ele tinha esse negócio da Copa, era uma coisa que eu lembro que o Eurico falava muito para ele, a possibilidade era maior dele ir para os EUA (sede da Copa) aqui do que para a Alemanha.
O fim trágico de Dener, com sua Mitsubichi branca com placa DNR-0010 na carona de Otto Gomes Miranda, deixou buraco em corações de brasileiros apaixonados pelo futebol raro de quem dizia que “às vezes um drible é mais bonito do que um gol”.
Na ocasião, o Vasco foi processado pela Portuguesa e pela família de Dener. O acordo de cerca de R$ 5 milhões com a viúva foi assinado em 2007, deixou de ser quitado por período na presidência de Roberto Dinamite e foi finalizado na última passagem de Eurico Miranda na gestão, em 2015.
– O Dener não tinha medo de nada. Se tivesse que jogar na Alemanha, jogaria. Se tivesse que jogar na Rússia, jogaria. Se tivesse que jogar em qualquer lugar, jogaria. Ele queria ter um bom contrato, queria ajudar a família. Desde aquela época e até antes disso, os jogadores evidentemente que almejavam ir para a Europa, iam ganhar mais aqui do que no Brasil. Jogar na Europa, em países importantes, era um desejo dele – diz Marcel Figer.
Fonte: ge
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