Atacante Madson relembra carreira e passagem pelo Vasco Sexta-feira, 24/05/2024 – 00:04 Madson, o foda! A tatuagem no antebraço direito demonstra bem a autoestima elevada do ex-meia de 38 anos. Só que ela não foi suficiente para mantê-lo nos gramados por mais tempo.
Aposentado desde 2020, depois de passagem apagada pelo São Caetano, ele hoje trabalha no ramo de eventos e também é dono de uma barbearia em Santos.
Para Madson, a grande vilã do fim de carreira precoce no futebol foi a pandemia de Covid-19, iniciada no Brasil em março de 2020 e que o impediu de sequência no Azulão. Mas ele também sabe que, no conjunto da obra, seu futuro poderia ter sido diferente se a vida extracampo fosse mais regrada.
– Eu exagerava (risos), passava do ponto. Às vezes chegava no treino virado. Isso vai manchando a carreira. Era novo, aguentava, jogava… Tinha tempo para caramba de descanso. Mas mesmo assim as pessoas estão vendo e na primeira oportunidade que tiverem para te desvincular, vão desvincular. Foi o que aconteceu comigo. Não é que me arrependo, mas eu mudaria. Mudaria e com certeza eu acho que teria prolongado a minha carreira – avaliou.
Madson foi revelado pelo Volta Redonda, mas despontou no Vasco, de onde foi emprestado para Duque de Caxias e América-RN antes de chegar ao Santos. Foi no time da Vila Belmiro, por sinal, seu melhor momento na carreira, com os títulos do Paulistão e da Copa do Brasil em 2010.
Só que aquele comportamento extracampo do qual Madson se arrepende o afastou do Peixe, que o emprestou ao Athletico-PR antes de negociá-lo com o Al-Kohr, do Catar. No clube do Oriente Médio, o ex-jogador atuou por sete temporadas, com 143 jogos e 67 gols.
No retorno ao Brasil, o começo do fim.
A troca de farpas com o técnico Rogério Ceni, que afirmou que o jogador estaria acima do peso, rendeu apenas uma partida no Fortaleza. Já no CSA, onde foi criticado pelo técnico Argel em áudio vazado, uma dispensa após seis meses e somente sete jogos.
E no São Caetano, o último clube, quatro jogos e a aposentadoria em meio à pandemia. Sem propostas atrativas, segundo Madson, a única intenção agora no futebol é poder ter um jogo de despedida pelo Santos, clube pelo qual viveu seu melhor momento na carreira.
Nesse bate-papo de aproximadamente uma hora e meia com o ge, Madson passou a carreira a limpo, explicou a origem da famosa tatuagem e refletiu sobre a fama conquistada pelas noitadas ou, como ele mesmo chama, baguncinhas.
Rodando o Rio de Janeiro
Madson nasceu em uma família que respirava futebol. Outros parentes já haviam tentado seguir a vida de jogador, mas sem sucesso. Foi vendo essas pessoas que o garoto, então com 12 anos, também começou a perseguir o sonho.
– Meu irmão tentou, meu tio tentou. Tinha meu pai que era jogador de várzea. Até hoje esse tio, que chegou a fazer teste no Fluminense, ainda continua jogando no “Cinquentão” lá em Volta Redonda. Bate falta para caramba, muito bem. Eu sempre ouvi falar bem dele. Eu respirei futebol desde que nasci por essas pessoas. Só que é aquele negócio, você vai crescendo e achando que é tudo uma brincadeira. Até que chega uma hora que começa a despertar os olhares. As pessoas e os amigos falam para fazer testes, entrar em algum clube, escolinha. Foi onde tudo começou – contou.
A partir daí começou a peregrinação pelo Rio de Janeiro.
Fez testes em Botafogo e Fluminense e foi aprovado na peneira do futebol de salão do Flamengo. Mas a falta de condições financeiras para se deslocar de Volta Redonda até a capital três vezes por semana fez o Rubro-Negro ficar para trás.
Mas foi disputando um campeonato por um clube menor da cidade que o jovem despertou a atenção da principal equipe do município, o Voltaço.
– Joguei muito bem, fiz gols, inclusive de falta, que hoje é escasso. Quanto tempo faz que não vemos gol de falta? Que saudade… Surgiu o convite do Volta Redonda para fazer o teste, passar uma semana com eles treinando. Nunca tinha feito treino físico na minha vida. Mal corria na rua. Só queria jogar bola na quadra, na rua. Faltavam dois meses para começar o campeonato carioca juvenil, e disseram que, se eu quisesse, eles me federavam e eu jogaria o campeonato por eles. Cheguei em casa, comentei com meu pai e ele perguntou: “É isso que você quer?”. Eu disse que sim. Aí me federei e disputei meu primeiro Campeonato Carioca juvenil pelo Volta Redonda com 15 para 16 anos.
No Tricolor de Aço, Madson se profissionalizou e disputou a decisão do Campeonato Carioca de 2005, quando o Volta Redonda foi derrotado pelo Fluminense. Foi aí que ele chamou a atenção do Vasco.
– Tínhamos feito uma campanha muito legal em 2005 com o Volta Redonda. Meu primeiro jogo como profissional na final do Carioca. Já tinha sido campeão da Taça Guanabara e foi jogar a final contra o Fluminense. Tinha o Túlio Maravilha, inclusive. Dei um passe para ele e a pontaria dele já estava mal (risos). Mentira. Ele consegue chutar, e o Kléber defende. Dali apareceu o Vasco. Já tinha jogado contra o Vasco umas seis ou sete vezes. E sempre joguei bem.
A queda no Brasileirão com o Vasco
No Gigante da Colina, Madson começa nos juniores. Apesar de o técnico do time principal ser Dário Lourenço, o mesmo que deu a primeira chance a ele no Volta Redonda, a oportunidade de entrar em campo só veio após a saída do treinador e a chegada de Renato Gaúcho.
– Foi quando tive a primeira oportunidade de jogar profissionalmente pelo Vasco, contra o Flamengo. Não esqueço até hoje, no Maracanã. O Vasco estava disputando a Copa do Brasil em 2006. Ele usou os reservas e precisava de banco. Eu acabei indo nessa. Graças a Deus e ao Renato (risos), ele me colocou no jogo e dou um passe para o Jean. Ganhamos de 3 a 1. O Jean faz um gol e saímos imitando aquele cara da Globo, o “Tô doido, tô doido” (Jajá, personagem do humorista Welder Rodrigues). Eu dou uma rabiscada, chuto, o Bruno defende e o Jean chega fazendo. Primeiro jogo no profissional. Imagina se eu faço gol no Maracanã? Puta merda, cara. Primeiro jogo profissional pelo Vasco. Dali eu não saio mais.
O período turbulento de Madson no Vasco começa em 2007.
Em abril, Renato Gaúcho é demitido, e Celso Roth é contratado. O meia deixa de estar nos planos do clube e passa a ser emprestado. Primeiro, ao Duque de Caxias, para disputar a segunda divisão estadual. Depois, ao América-RN. O afastamento só termina com a chegada de Antônio Lopes, em março de 2008, que perguntava onde estava o baixinho que tinha no elenco.
Com o Delegado, Madson começa atuando na ala esquerda. Depois, se torna lateral, e não vai bem. Mas ele se envolve em um problema, e o treinador o coloca para treinar separado do grupo.
– Fiquei afastado porque acabou rolando uma desobediência minha. Ele fala: “Você só vai voltar a jogar na sua posição se você fizer isso e isso”. Ele era xerifão. Fiquei duas ou três semanas separado treinando só a parte física, sem bola – contou.
Antônio Lopes deixa o clube em agosto de 2008 e no mês seguinte Renato Gaúcho retorna. No entanto, o treinador e o elenco não evitam a primeira queda do Vasco para a Série B do Brasileiro.
– O Vasco viveu um processo muito parecido com o Santos do ano passado. Ele vinha de três anos com uma gestão difícil. Embora o Eurico fizesse de tudo pelo clube, ele já vinha num processo complicado. Quando o Eurico sai e entra o Dinamite, estoura na mão dele, que não tinha culpa nenhuma, e acaba sendo rebaixado com a gente. Acredito que foi essa questão extracampo que refletiu dentro do campo e o preço maior chegou, que foi o rebaixamento.
Além de toda a lembrança e gratidão ao Vasco ficou, também, o agradecimento a Renato Gaúcho, com quem Madson desenvolveu uma relação próxima.
– O Renato sempre foi paizão. Sou muito grato a ele. Sem puxar sardinha. Ele sempre teve a questão de ensinar, mostrar. Eu acho isso muito legal. Ele não vinha com sete pedras na mão. Ele resolvia o problema. Vinha com a solução, faz assim que dá certo. E a gente fazia e dava certo. Sempre foi o cara da resenha, contava uma historinha ou outra. Sou grato para caramba. Até hoje sempre que tenho a oportunidade de tocar no nome dele, eu tento passar essa gratidão. Foi ele que realmente me deu a oportunidade de mostrar ao Brasil meu talento com a camisa do Vasco – disse Madson.
O Foda
O ex-meia é tão conhecido pela tatuagem que tem no antebraço direito que sua assinatura nas redes sociais também é “Madson, o Foda”. Mas como isso surgiu?
– Tinha feito um funk lá e a galera me chamava de “A Fera”. E eu falava “A fera do Vascão”. Eu iria tatuar “A Fera”. Só que quando eu chego no tatuador, ele fala: “Mano, você vai escrever ‘A Fera’? Não está batendo o negócio. Tudo bem que você gosta, mas não está batendo. Deixa eu fazer uma parada aqui”. Daí ele pegou a caneta, escreveu. Eu olhei e ficou da hora. Ele disse bota ‘O Foda’ aí. Pensei: “Ah, é isso mesmo. Vou botar ‘O Foda’. Minha mãe fala que eu sou foda, meu pai fala que eu sou foda, a galera fala que sou foda. Então vai ser o foda. O cara foi e tatuou.
– É uma coisa que eu me acho, tenho essa autoestima. Realmente, acho que eu sou foda mesmo. Acabei tatuando e ficou. O negócio pegou, mas nada para menosprezar ninguém. Uma coisa minha que resolvi colocar aqui e vai ser única eu acho. Quero saber quem vai ser o doido que vai fazer isso. Vai ficar para a vida e para sempre. Foi isso. A galera curtiu.
Títulos, dancinhas e passagem marcante no Santos
Madson foi contratado pelo Santos em 2009 e, para superar a desconfiança do torcedor, buscava se entregar em campo. Apesar de estar em um elenco com jogadores experientes como Fábio Costa, Fabiano Eller, Kleber Pereira e Lúcio Flávio, a temporada foi de oscilações, com eliminação na segunda fase da Copa do Brasil, o vice do Campeonato Paulista e o 12º lugar no Brasileirão.
Nos treinos, Madson lembra que o melhor era não brincar com a ira de Fábio Costa:
– Ele avisava antes: “Chegou na minha frente, finaliza. Se der mais um toquinho, eu vou na tua cintura”. E vinha mesmo! Podia ser o mais pica ou um moleque da base. Não tinha isso. Chegou na frente dele, não faz graça, chapa. Se cavasse, ele corria atrás e dava voadora. Ele não gostava de brincadeira, não. Gostava de seriedade. E se saísse de brincadeira, era melhor correr. E se não te pegasse ali, iria te pegar no jantar, na concentração. Não dava para mexer com ele, não.
Na temporada seguinte, em 2010, Madson fez parte do elenco que encantou o Brasil ao conquistar o Campeonato Paulista e a Copa do Brasil, liderados por Paulo Henrique Ganso e Neymar.
– Vamos corrigir essa frase. Em 2009, o Neymar estava comigo, Paulo Henrique Ganso estava comigo. Eu era o cara (risos). Já era realidade, tinha jogado no Vasco. Quando os meninos chegaram, eu já estava lá, pô. Peguei pela mão: “vem aqui, que o pai ensina” (risos).
– Isso concretizou meu momento especial como atleta de futebol. Concretizou, para mim, a sequência de anos que eu vinha jogando bem. Em 2010 eu concretizo com um time sensacional, com dois títulos, incluindo um inédito para o clube. E ver o Neymar subindo… De um ano para o outro, ele dá uma desenvolvida técnica e fisicamente, absurda. Ele mudou fisionomia, mudou corpo, mudou tudo. Foi uma evolução muito rápida e você ver tudo aquilo ali foi fantástico. Graças a Deus eu pude participar desse elenco vitorioso do Santos em 2010 e que encantou o Brasil. Isso fez, também, com que o torcedor santista hoje tenha esse carinho e esse afeto por mim aqui na cidade – comentou.
Aquele Santos de 2010 ficou marcado pelo poder ofensivo. O time anotou 180 gols, uma média de 2,31 por partida. Mas também é lembrado pelas comemorações. Afinal, Madson, Neymar e companhia inventaram danças para celebrar os gols e foram até convidados de honra no Programa do Jô.
– Agora é Tiktok. Dancinha raiz ninguém faz mais. Acabou. Na nossa época, ouvíamos uma música e pensávamos: “Isso dá para meter o passinho nessa aqui”. Era tudo aleatório. Não tinha esse negócio de ver e imitar. A gente que fazia mesmo, criava na hora. Ouvíamos muito funk e pagode. Foi um momento mágico. Eu quero ser lembrado por isso para sempre. As dancinhas, os gols, as goleadas. O time jogar alegre, livre, solto. Um time que vai ser lembrado sempre, não só pelo torcedor santista, pelo Brasil inteiro.
Brincadeira com Dorival Jr. e caso do goleiro Felipe
Durante a passagem pelo Santos, um dos momentos mais inusitados foi uma passagem que ocorreu logo após a conquista do Campeonato Paulista, quando alguns jogadores foram comemorar o título na cobertura de Madson, que tinha como vizinho o técnico Dorival Júnior.
– Nós fomos campeões paulistas e viemos de São Paulo daquele jeito. Teve comemoração numa discoteca no Centro de Santos. Saímos da discoteca, fomos para casa, o samba rolou. Peguei o microfone e comecei a gritar. No dia seguinte lá (no CT), todo mundo de ressaca e ele (Dorival Jr.) falou: “É. Vão te mandar embora daí. Tem juiz, tem desembargador. Os caras vão fazer um abaixo-assinado. Você vai ser expulso. Eu ouvi a festa que vocês fizeram ontem, viu?”. Eu respondi: “É mesmo, professor? Pensávamos que o senhor já estava dormindo, com fone de ouvido” (risos). Foi uma bagunça só. Estávamos no êxtase. Ser campeões paulistas do jeito que foi, naquele sofrimento, naquela adrenalina a flor da pele. Mas foi tudo uma brincadeira.
Hoje, aos 38 anos, se tivesse ainda em atividade, Madson gostaria de ter outra oportunidade com Dorival Júnior, atualmente técnico da seleção brasileira.
– O Dorival, desde o início, foi bem claro comigo. Eu era a primeira opção do banco. Sempre que precisava mexer no time para frente, eu era a primeira opção. E sempre cumpriu com a palavra dele. Foi um cara que eu gostei muito de trabalhar. Gostaria, se tivesse jogando, de trabalhar novamente, mas de uma forma diferente. Mais maduro. Sem bagunça. Na época tinha 23 anos. Olha quantos anos já se passaram. Eu era molecão. Com uma renca de moleque vindo atrás. Neymar, André, Ganso, Breitner. Aí não tem jeito. É bagunça. Não tem como segurar, não.
Um dos momentos de reflexão de Madson envolve o caso do goleiro Felipe. Durante uma discussão com torcedores na Twitcam, o jogador foi chamado de “mão de alface” e respondeu: “O que eu gasto com o meu cachorro de ração é o teu salário por mês”.
A situação teve ampla repercussão à época. Por estar junto do companheiro naquele episódio, o meia foi cortado do jogo decisivo da final da Copa do Brasil, contra o Vitória, em Salvador.
– Eu não me arrependo porque não fui eu que falei. Me arrependo por chegar na Bahia e ser cortado do banco. Joguei quase todos os jogos da Copa do Brasil. E quando chega na final, na cereja do bolo… Isso eu me arrependi. Caraca. Não precisava. Mas acabei sendo cortado. Poderia estar no banco, ter entrado no jogo. Enfim… foi um episódio que, sou bem transparente, o Felipe falou aquilo ali sem maldade no coração. Tínhamos ganhado um jogo, liberaram uns drinks para a gente lá, ficamos alegres, bate-papo, ouvindo música, jogando baralho.
– Existia essa Twitcam onde começamos a brincar. Como estávamos em um momento de ascensão, todo mundo queria falar com a gente. O cara chamou ele de mão de alface, e ele rebate daquela forma, sem pensar. Eu falo por ele. Saiu da boca para fora. Não foi algo que ele pensou e falou. Ele ouviu atrás antes. Alguém falou, eu não vou falar, mas falaram e ele só reproduziu achando que não ia dar nada. Aquilo viralizou. Jornal Nacional, Jornal da Globo. Aquilo, querendo ou não, pra um clube que dois dias depois jogaria uma final de Copa do Brasil…
Madson lembra que todos os jogadores envolvidos no caso foram repreendidos pelo treinador e pelo restante do elenco, principalmente Zé Love. Em um momento do vídeo, o atacante atendeu a um telefonema de Robinho, que pedia para eles encerrarem a transmissão. Em resposta, o jogador disse que era o último jogo do jogador e que ninguém sentiria falta dele. Já Felipe, segundo o ex-jogador, ficou abalado, sofreu ameaças e quase desistiu da carreira.
– Da minha parte, me arrependo por ter sido cortado do banco. Fiquei no camarote, chovendo para caramba, e sem participar do jogo. Graças a Deus passou. Vai ficar lembrado para o lado negativo. Mas valeu de aprendizado para mim, para o Felipe, para o Zé Love, para todos que estavam ali envolvidos. Uma coisa que a gente fala, que saia da nossa boca, mesmo que não seja de coração, pode ser bem complicado, né. Essas frases que a gente possa soltar. Vale o aprendizado.
Baguncinhas abreviam passagem no Santos
Madson tinha contrato com o Santos até o fim de 2012. Porém, nunca mais vestiu a camisa do Peixe após o fim da temporada de 2010. Ele atribui isso aos problemas causados pelas “baguncinhas” exageradas. Em 2011, ele foi emprestado ao Athletico-PR.
– Quando eu venho para me apresentar, meu empresário fala para eu nem aparecer porque o Santos estava me emprestando devido ao meu extracampo. Falei que tudo bem. Mas, dentro de mim, pensava que iria jogar uma Libertadores. Mentalizando em dar uma mudada no meu perfil, já não ser como foi em 2010. Amadurecer um pouco mais. Mas fui emprestado.
O jogador chegou ao Furacão indicado pelo diretor de futebol Ocimar Bolicenho, que já havia trabalhado com Madson no Santos, e teve bom começo com o técnico Sergio Soares.
Porém, as trocas constantes de treinadores prejudicaram o time e, consequentemente, o meia. Foram seis comandantes na temporada, que terminou com a queda do Athletico-PR para a Série B do Campeonato Brasileiro.
Onde fica o Catar?
Dez anos antes de sediar a Copa do Mundo, o Catar ainda era um país pouco explorado pelo mundo do futebol. E foi para lá que Madson seguiu depois da passagem pelo Athletico-PR. Foram sete anos no futebol árabe, mas, no início, o ex-jogador não sabia nem onde o país ficava localizado.
– Confesso que não sabia nem onde era. Quando recebo a proposta para ir, eu ainda tinha contrato com o Santos, mas o Santos não me queria mais devido a toda bagunça que fiz. Queriam se livrar de qualquer jeito. Aí chega essa proposta e meu empresário fala: “É sua última chance. O único jeito. E vou te avisar. Se fizer merda, vai preso”. Perguntei onde ficava e era lá no mundo árabe. Mundo árabe? Sei nem onde é (risos). Existe isso? Eu nunca tive dificuldade de me adaptar em lugar nenhum, graças a Deus. Mas fui com o pé atrás. Não conheço o país, nunca ouvi falar, totalmente diferente, em outro lugar do mapa.
Madson chegou ao país no dia 18 de dezembro, quando se celebra o “Dia Nacional”, ocasião que homenageia o fundador do país, Sheikh Jassim bin Mohammed Al Thani, nascido na data.
Ele se assustou com a movimentação naquele dia, mas as semanas seguintes foram de fácil adaptação. O que incomodava era o chamado para a oração feito pelas mesquitas locais. Às vezes, ele acabava sendo acordado pelo barulho dos autofalantes do templo.
– Quando sou vendido pelo Santos já estava ambientado. Sabia onde ir, como funcionava o país, que leis lá funcionam. Não pode sair com cerveja na rua, não pode brincar na rua como é aqui, que é mais liberal. Lá, não. Quer tomar uma cerveja? Vai num hotel 5 estrelas, internacional, que tenha bebida alcóolica e você possa tomar um drinkzinho. Não tem bares. Enfim… o país é muito civilizado e me adaptei bem e rápido. Adorei morar no país.
– É muito desenvolvido, seguro. Minha esposa até hoje fala: “Meu Deus do céu! Por que você pediu para vir embora? Por que estamos voltando agora?”. Isso também me arrependo um pouquinho. Poderia ter prolongado um pouco mais a carreira lá. Foi um país que vivi sete anos e que foi um divisor de águas na minha vida. Na parte financeira e profissional também. Consegui ter uma vida muito bacana lá no Catar, fiz muitos amigos. Um país que mora no meu coração.
Carreira abreviada pela pandemia
Em 2019, então com 33 anos, Madson decide voltar ao Brasil. Acreditava que poderia atuar em alto rendimento. Contudo, uma entorse no joelho o deixou três meses parado. No retorno, o primeiro desafio foi o Fortaleza, de Rogério Ceni. Mas ele não teve as oportunidades que esperava.
– Tinha possibilidade de voltar (para o Catar), fazer os exames novamente e assinar um novo contrato. Decidi ficar porque achava que tinha condições de jogar no Brasil. Voltei para o Fortaleza, cheguei a jogar um jogo com o Rogério Ceni. Mas estava muito acima do peso devido a lesão. Expliquei tudo, mas ele não me deu tanta oportunidade como imaginei. Acho que isso atrapalhou minha fase final da carreira. Vou para o CSA, consigo jogar alguns jogos do Campeonato Brasileiro. Saio do CSA, vira o ano para 2020, vou para o São Caetano e vem a pandemia. Estavam lá eu, Domingos, o treinador era o Gallo. Veio a pandemia e atrapalhou tudo.
A ideia de Madson, antes da pandemia, era ter uma sequência no São Caetano e conseguir demonstrar que teria futebol para voltar a defender o Santos e preparar a aposentadoria. Após a pandemia, o ex-jogador garante que surgiram sondagens, mas nenhuma que fosse positiva para dar andamento na carreira.
– Aceitei o São Caetano para fazer mais minutagem. Criar material. E minha ideia era aposentar aqui (no Santos). Hoje seria o cenário perfeito. Se eu tivesse jogado ano passado por qualquer outro clube, eu chegaria no Marcelo Teixeira e falaria: “Presidente, estou com 38 anos. Gostaria de jogar mais um ano com você, com o clube. Vamos fazer um contrato de produção? Como o senhor pode me ajudar, o que o senhor entende? Passa isso ao treinador, vê o que ele acha.
Sem condições de voltar a atuar em alto nível, Madson quer ajudar o Santos de alguma outra forma:
– Já estou indo para o quarto ano sem jogar. É muito difícil. Futebol está muito rápido, muito dinâmico. Sou muito sincero. Quatro anos sem jogar é uma loucura. Qualquer time, hoje, que me aceitar, vai ser criticado. Com certeza. Não é eu entrar no clube e jogar amanhã. Preciso de um período de adaptação da parte física, corporal. Tecnicamente, aprimorar. Adaptação. A bola está mais rápida, gramado está mais rápido. Hoje ficou muito mais difícil de voltar. Mas, paciência. O que importa é estar no meio do futebol tentando alguma coisa. Estar ajudando ao Santos. Espero mais para frente estar lá dentro trabalhando de uma outra maneira. Mas que eu possa estar, também fora de campo, dando o melhor para o clube.
Mesmo sem chance de ter uma temporada completa pelo Santos, o ex-jogador mantém a esperança de ter, ao menos, um jogo oficial de despedida com a camisa do Peixe. O ex-lateral Léo passou por uma situação semelhante. Após se aposentar em abril de 2014, disputou um amistoso contra o Benfica, em 2016, para marcar a despedida dos gramados.
– Eu gostaria muito, né? Seria sensacional. Acredito eu que grande parte da torcida abraçaria a ideia. Seria perfeito para o final de carreira.
Reflexão sobre a carreira
Atualmente, Madson tem trabalhado com eventos. Além disso, o ex-jogador também é proprietário de uma barbearia em Santos. No futebol, ele tem buscado fazer indicações de jovens para realizarem testes em clubes. Um dos objetivos é poder, agora longe dos gramados, ajudar o Santos. Para isso, ele já se programa para participar de cursos e se preparar melhor.
– Tenho conhecidos que me chamam para olhar jogadores. Eu pego o carro e vou lá. Como se fosse um olheiro e dar essa oportunidade para os meninos que não tem chances. Estou começando a olhar para esta situação de ser empresário, mas não sozinho. Sempre com alguma parceria. Tem muita gente na minha frente como empresário, que já tem um mercado amplo.
– É mais fácil começar devagar, mostrando jogadores, vendo se interessa aos clubes. Tentar ajudar. No futebol estou começando por aí. Agora, diretamente dentro do Santos, eu quero estudar, fazer cursos na CBF para estar preparado. Quero estar preparado para fazer aquilo que sei. Vamos trabalhando e, se Deus quiser, ter uma oportunidade de trabalhar lá dentro.
Madson deixa claro que não se arrepende em nada do que viveu durante os mais de 20 anos dentro do futebol. Porém, faz uma nova reflexão sobre como a fama fora dos gramados acabou atrapalhando a chance de ter uma sequência maior no Santos e ser, por exemplo, campeão da Copa Conmebol Libertadores da América, conquistada pelo Peixe em 2011.
– Não me arrependo de nada do que fiz. Deixei isso bem claro. As noitinhas, as baguncinhas, baladinhas. Não me arrependo de nada. Mas, talvez, faria diferente. Até porque o mundo de hoje está bem difícil de fazer o que fazíamos em 2008, 2009. Está bem complicado. Mas não faria com tanta intensidade tudo que fiz lá atrás. Eu mudaria isso hoje. Tenho absoluta certeza que meu extracampo naquela época me atrapalhou de não ser campeão paulista novamente, não ser campeão da Libertadores.
– Se eu fizesse as baguncinhas, mas que o negócio não tomasse tanta proporção como tomava… gerou uma insatisfação na entidade Santos. Não só jogadores. Diretoria, treinador, comissão técnica, enfim… acaba gerando essa insatisfação. Não dá para manter esse cara aqui, não. Eu era bom de grupo, me dava bem com todo mundo, tratava todo mundo bem. Do porteiro ao presidente. Questão pessoal, não tive problema com ninguém. O problema foi eu mesmo. Eu fazia as bagunças e isso, hoje com certeza, eu mudaria. Certamente, eu estaria jogando até hoje. Se não tivesse as noitadas, as coisas que fazia, talvez, estaria jogando, estaria empregado.
Fonte: ge
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