Arquiteto Sérgio Dias dá detalhes sobre o projeto da reforma de São Januário

Arquiteto Sérgio Dias dá detalhes sobre o projeto da reforma de São Januário Sábado, 22/06/2024 – 13:56 Enquanto o presidente Pedrinho e outros dirigentes do Vasco vibravam e se abraçavam para comemorar a aprovação do projeto de lei que vai viabilizar a reforma de São Januário, o arquiteto Sérgio Moreira Dias chorava copiosamente na tribuna na Câmara de Vereadores do Rio, na última terça. E então retomou o fôlego e secou o rosto para se juntar aos companheiros no tradicional grito de “Casaca” puxado pelo vereador Alexandre Isquierdo, que foi acompanhado por cerca de 30 torcedores que assistiam à sessão.

Sérgio é o responsável pelo projeto que, além de modernizar o estádio, vai aproximar o local ainda mais das comunidades da Barreira, Tuiuti e Arará, que ficam no seu entorno. Para isso, buscou inspiração na queda do Muro de Berlim.

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Sergio tentou elaborar o motivo da emoção. Ele cresceu ouvindo histórias de seu avô, Albertino Moreira Dias, um dos precursores do futebol do Vasco, sobre como o clube desafiou os coirmãos da Zona Sul para contar com negros, pobres e operários em campo. Ainda nem sonhava em ser arquiteto, mas se encantava com os relatos da união de torcedores para comprar o terreno e construir São Januário, de forma colaborativa, fazendo uma espécie de “vaquinha”.

Ele viu a chance de colocar seu nome na história do time de coração quando, no fim dos anos 1990, uma parceria entre o clube e um banco dos Estados Unidos ensaiou uma reforma do estádio, e ele assumiu o projeto. Por divergências políticas, a ideia não saiu do papel, o que o deixou frustrado. Até que, em 2020, o então presidente Alexandre Campello retomou a iniciativa de modernizar São Januário e o convidou para a empreitada, que continuou com o presidente seguinte, Jorge Salgado, e depois com a 777. Agora, Pedrinho está à frente.

– O desfecho que você viu na terça foi de três anos de tramitação de lei. Três anos se passando, a gente ficando velho e aquele dia aconteceu. Diante de um placar de 44 votos, uma torcida gritando, cantando o hino. Aí, o filme passou. Até agora, eu não me controlo – afirmou Dias, em entrevista ao ge.

Presidente do Vasco, Pedrinho, e o arquiteto Sergio Moreira Dias — Foto: Divulgação: Câmara do Rio

Sua equipe conta com os arquitetos Ana Carolina Dias, Clarissa Pereira, Felipe Nicolau e William Freixo.

Uma das particularidades do projeto será a integração com a Barreira do Vasco, favela que fica no entorno do estádio. Muros da atual estrutura, que ficam diante da entrada da comunidade, serão derrubados e será aberta uma praça pública que dará acesso a São Januário. A decisão foi uma forma de, mais uma vez, quebrar preconceitos e reforçar os laços com os vizinhos.

No ano passado, um parecer do Juizado Especial do Torcedor e Grandes Eventos, escrito pelo juiz de plantão Marcelo Rubioli, dizia que “todo o complexo é cercado pela comunidade da Barreira do Vasco, de onde houve comumente estampidos de disparos de armas de fogo oriundos do tráfico de drogas lá instalado, o que gera clima de insegurança para chegar e sair do estádio”. A declaração incomodou o arquiteto, que citou uma inspiração retirada da Guerra Fria.

Projeto de reforma de São Januário, estádio do Vasco — Foto: Projeto: Sergio Moreira Dias, Felipe Nicolau, Willian Freixo, Clarissa Pereira e Ana Carolina Dias

– Isso foi agressão total. Qualquer estádio no Brasil é cercado de comunidades e convivemos muito bem com elas. Não só o Vasco, o carioca e o brasileiro. Querer impedir a proximidade é um absurdo. O Vasco começou, e a comunidade veio depois. Você não escuta episódio de assalto de quem vai no jogo. A convivência sempre foi pacífica e interativa. Os caras da comunidade vendem o churrasquinho, o sanduíche, tem o flanelinha, estacionamento, em função do estádio é um gerador de fluxo, receita e empregos em paralelo.

– A inspiração (para criar a esplanada) foi o Muro de Berlim, que dividia duas cidades. Em função do acordo de guerra (…). Milhares de pessoas demoliram a barreira e integraram de novo a cidade. Esse simbolismo é muito forte. A gente está demolindo os muros que separam o estádio, a propriedade, da comunidade. Para dizer: “Seu juiz, estamos tão integrados que não tem mais barreira” – completou.

Veja outros trechos da entrevista:

Aumento da capacidade de público

– Esses desenhos e conceitos foram se alterando. Primeiro, tinha que ser maior que 40 mil, porque tinha uma regra da Conmebol que se pretendia atingir. Passou um pouco, ficou em 43 mil. Veio outra gestão, que quis aumentar e passou para 47 mil. Agora a gente tem uma nova gestão, com as demandas do Pedrinho, com algumas considerações que a gente está fazendo, eu não posso te contar spoiler. Provavelmente nova configuração maior, a gente ainda tem que apresentar isso para a nova diretoria. Essa semana, na segunda-feira, vai ser apresentadas as alternativas para bater o martelo.

Projeto do Vasco para a reforma de São Januário — Foto: Projeto: Sergio Moreira Dias, Felipe Nicolau, Willian Freixo, Clarissa Pereira e Ana Carolina Dias

Caldeirão

– No século passado, tinha pista de atletismo no entorno, o Maracanã fez assim. Não tinha conceito de torcida que está dentro do jogo, influenciando e que quer influir mais que a qualidade dos jogadores. A gente fez questão da aproximação. A arquibancada norte, hoje, fica a 40 metros do campo. Serão 10 metros. A nossa torcida, a nossa Força Jovem gritando atrás do gol. A gente fez isso em volta do estádio todo. Criamos a sul como a norte. E na leste, a torcida fica em pé. Isso tem outro simbolismo, o Vasco é popular, quer a torcida pagando ingresso popular. A gente fez uma relação de capacidade de torcida em pé que não tem no Brasil e no Mundo.

Vai haver um trabalho para ampliar o grito da torcida através da reverberação do concreto, marquises, nada de eletrônico. Ela vai estar mais próxima, e a gente quer que fique mais potente.

Sergio Moreira Dias, arquiteto — Foto: Reprodução: Câmara do Rio

Próximos passos para a construção do estádio

– O próximo passo é entrar com o projeto de aprovação, obter as licenças, a turma que vai conseguir as receitas, e a construção. Seria um sonho inaugurar no centenário. É o novo sonho. Se eu estiver lá vou ter que chorar de novo.

Quem licencia qualquer projeto é a Prefeitura. Começa uma gincana de apresentações e aprovações. O primeira passo é interno para a nova diretoria dizer: “esse é o projeto”. Depois, a gente elabora o projeto legal e dá entrada no Instituto Rio Patrimônio da Humanidade, depois nos orgãos de urbanismo, de trânsito e meio ambiente. É uma série de licenças que geram o alvará final. São processos que exigem muita atenção. Tem que ir para os Bombeiros também. Acho que a gente leva uns 3 meses para levar esse projeto. A meta é ter licença no final do ano, para começar a obra e aí mais 2 anos e meio a 3 anos para construir.

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Esplanada aberta para a Barreira do Vasco

– A gente teve outro episódio feio, discriminatório, quando um juiz impediu os jogos do Vasco por estar dentro da comunidade. Isso foi agressão total. Qualquer estádio no Brasil é cercado de comunidades e convivemos muito bem com elas. Não só o Vasco, o carioca e o brasileiro. Querer impedir a proximidade é um absurdo. O Vasco começou e a comunidade veio depois. Você não escuta episódio de assalto de quem vai no jogo. É muito interativo. Vende o churrasquinho, a batida, tem o flanelinha, o estádio é um gerador de empregos em paralelo. A inspiração (para criar a esplanada) foi o Muro de Berlim, que dividia duas cidades. Quebraram a barreira e esse simbolismo é muito forte. A gente está demolindo os muros que separam a propriedade. “Seu juiz, estamos tão integrados que não tem mais barreira”. Cria-se uma conexão .

Aquele setor também tem a função técnica de dispersão do público. Tem espaço para concentração e dispersão para não ter confusão. Juntamos a função técnica com o social. A garotada pode jogar bola nessa praça quando não tiver jogo no estádio.

Projeto do Vasco para a reforma de São Januário — Foto: Projeto: Sergio Moreira Dias, Felipe Nicolau, Willian Freixo, Clarissa Pereira e Ana Carolina Dias

Estamos falando de 20% da área total. Claro que o estádio, piscina são do clube, tem limitações de segurança por questão patrimonial. São duas coisas em convivência, mas separadas. Ainda da esplanada, perto da torre norte, vai ter uma parede de granito, com o texto da resposta histórica gravado, para que todas as gerações possam ver.

Manutenção da fachada histórica

– A manutenção da fachada era coisa que a gente não abria mão, que era a coisa mais importante da nossa história. Chegaram muitas versões que, mesmo mantendo a fachada, construia coisas por cima, prédios espelhados. Mas a gente manteve integralmente a fachada.

Melhoria da estrutura para os sócios

– O clube hoje não tem quase função social. A piscina é para atletas, a quadra de tênis atende um público pequeno. O campo é utilizado para a base. Queremos um novo espaço para o sócio, para que possa frequentar. Da mesma forma de quando eu era garoto. A gente quer o associado de volta, para ser o quintal da casa dos vascaínos. Vai ter piscina de recreação, playground.

Projeto do Vasco para a reforma de São Januário — Foto: Projeto: Sergio Moreira Dias, Felipe Nicolau, Willian Freixo, Clarissa Pereira e Ana Carolina Dias

Criação de seu primeiro projeto de reforma de São Januário

– Ganhamos um concurso para reformar a orla carioca. Fiz toda orla marítima do Rio. Eram 33km. A gente ampliou os calçadões, construímos a ciclovia, impedimos de botar os estacionamentos na beira do mar. Você olha para as praias e tem o meu dedo. Tive um sucesso profissional nos anos 90. E comecei trabalhar , e comecei a trabalhar em uma empresa do Pelé. Na época, o Vasco fez uma parceria com o Bank of América, era uma pré-SAF, que resolveu investir no esporte brasileiro e fez um contrato com o Vasco para criar um novo São Januário. Fizeram um concurso para reformar São Januário, e nós ganhamos, ali 1999,2000. Fizemos o primeiro projeto de expansão, envolvia cerca de U$350mi. Tudo bancado pelo Banco. Aí o nosso Vasco brigou daqui e dali e rompeu com o banco, e perdeu a grande oportunidade.

O novo projeto

Em 2000, não foi adiante. Depois veio o convite do Campello para fazer o estádio na gestão dele. Não tinha dinheiro. Mas eu entrei. Sou como um dos 10 mil que botaram o tijolinho, ia dar o que tinha. Entrei voluntariosamente, com um time de outros voluntários. Chegamos na primeira versão. Não tinha recurso. Então entrou o Salgado, e ele levou para o prefeito Eduardo Paes. Eu fui secretário de Urbanismo da gestão do Eduardo Paes. Ele disse: “Sergio, inventa uma lei legal, com princípios e fundamento que possa gerar benefícios para construir o estádio”. Ele me passou uma responsabilidade enorme. Fiquei 6 meses estudando legislação, busquei o estatuto da cidade – o plano diretor — e a lei federal de uso de solo. O plano diretor estabelece o fundamento da transferência de potencial construtivo. Tem tudo a ver, o Vasco é um bem tombado, patrimônio de interesse social e histórico da cidade. Levamos a proposta ao prefeito e ele abraçou.

Acessibilidade

Para entrar na história do clube

– O desfecho que você viu na terça foi de três anos de tramitação de lei. Três anos se passando, a gente ficando velho e aquele dia aconteceu. Diante de um placar de 44 votos, uma torcida gritando, cantando o hino. Aí o filme passou. Até, agora eu não me controlo. Da mesma maneira que o estádio de 1927 foi um elo de pessoas anônimas, sei lá, de repente, a gente muda de novo a história do clube, com um estádio maior, moderno, para obrigar essa torcida que não consegue caber na nossa casa.

Fonte: ge

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