Projeto ‘Vasco em filme’ registra a festa da torcida em São Januário em fotos analógicas
Palco de feitos históricos para a crônica do futebol, o estádio Vasco da Gama, popularmente conhecido como São Januário, é antes de tudo sinônimo de resistência.
Erguido na década de 1920 com o dinheiro dos próprios torcedores, aproximadamente sete mil contribuintes segundo registros, sua construção foi considerada uma resposta aos rivais que, à época, boicotavam a equipe cruzmaltina por escalar atletas negros e pobres em seu plantel.
Inaugurado em 1927 como o maior estádio da América do Sul, foi em São Januário onde Roberto Dinamite se consagrou o seu maior artilheiro com 184 gols. Testemunhou ainda o milésimo gol de Romário, que em 2007 atingiu a distinta marca em uma cobrança de pênalti contra o Sport, sob os olhares atentos de quase 20 mil vascaínos em uma tarde de domingo.
Entre passado, presente e futuro, São Januário, cujo nome homenageia uma das ruas do bairro onde o estádio está localizado, mantém vivo o legado de quase um século de história.
Para retratar as memórias imateriais deste templo do futebol, muito além dos 21.800 lugares nas arquibancadas, a arquiteta vascaína Mariana Barros criou o projeto de fotografia analógica “Vasco em Filme”. No compilado de registros, ela eterniza a força e relação de amor incondicional da torcida com a Colina Histórica: dentro e fora de campo.
Confira o papo que trocamos sobre o Vasco em Filme:
A torcida do Vasco é considerada um patrimônio brasileiro por conta de toda sua dedicação ao time. Daí surge a ideia do projeto?
Meu projeto de fotografia analógica chamado “Vasco em Filme” é uma representação de resistência e força não só das arquibancadas de São Januário, mas também de toda uma vivência da Barreira do Vasco. Através das lentes, a imortalidade das imagens resgata a energia particular da torcida que, mesmo em tempos de adversidade do clube, segue firme e apaixonada, unida em um canto coletivo de apoio e luta.
A favela, com sua história de resistência, representa o coração da comunidade vascaína, simbolizando a superação dos desafios e a força de um povo que mantém viva a chama da esperança e da sua identidade. Esse projeto vai além de simples registros, ele é uma celebração entre time, torcida e comunidade, evidenciando a paixão e o orgulho vascaíno.
O que te levou a optar pela fotografia analógica?
A fotografia analógica me atrai pela sua estética única e pelo charme nostálgico que ela carrega. Ao contrário da digital, a analógica oferece uma textura e uma profundidade que me levam ao passado, trazendo um sentimento de memória e história em cada imagem capturada.
A imprevisibilidade do processo – desde o momento de disparar o filme até a revelação – adiciona um valor sentimental a cada fotografia, tornando um registro mais pessoal e significativo. As imperfeições sutis, como a granulação e as cores intensas as tornam não apenas documentos visuais, mas também cápsulas do tempo que guardam a beleza de momentos específicos de uma maneira única.
O que a iniciativa, sob o ponto de vista pessoal, significa para você?
A fotografia analógica tem um significado único para mim, principalmente pelo laço emocional que ela carrega no meu contexto familiar. Olhando as imagens capturadas com filme, sinto uma conexão com os registros do passado, especialmente as fotos que meu pai fazia de mim quando nova e da nossa família.
Para mim, a beleza da fotografia analógica está na imperfeição e em como ela resgata momentos preciosos, carregados de histórias e memórias. Essas fotos não são apenas registros, mas fragmentos de uma história de afeto e presença, e é essa conexão com o meu passado familiar que torna a fotografia analógica ainda mais significativa e bonita aos meus olhos.
Como é a recepção ao projeto?
As pessoas em São Januário têm recebido meu projeto de fotografia com muito carinho e interesse. Elas se mostram curiosas sobre o processo, sempre perguntando como funciona a fotografia analógica e se eu levei a câmera para registrar aos jogos.
A troca é sempre muito legal, pois além de registrar momentos únicos, também compartilho com elas o encantamento e a magia do processo manual, que desperta um senso de nostalgia e conexão com a tradição. Elas ficam empolgadas em saber mais sobre cada foto e processo e, frequentemente, pedem para ver as imagens depois. Essa interação genuína torna a experiência ainda mais especial!
Confira outras fotos do Vasco em Filme:
Fonte: Catraca Livre