Montagem sobre fotos/Instagram/Sergio.santosrodrigues/Twitter/@Botafogo SIGA-NOS Botafogo e Cruzeiro se transformaram em SAF e passaram a ser administrados por John Textor e Ronaldo Fenômeno, respectivamente
Aprovado no Congresso no fim no ano passado, o modelo de Sociedade Anônima do Futebol (SAF) tem rendido frutos para os endividados clubes brasileiros. Cerca de três meses depois de Ronaldo Fenômeno tornar-se sócio majoritário do Cruzeiro, o Botafogo anunciou, na tarde desta quinta-feira, 3, que o estadunidense John Textor é o seu novo dono – o Vasco também promete entrar na onda ainda em 2022. Mas, afinal, por que as agremiações estão fazendo essa opção? E como funciona essa nova forma de administrar os times? Neste modelo, a equipe se torna oficialmente um “clube-empresa”, que dá a investidores garantias legais de seus aportes, que podem ser feitos tanto em pequenas porções (como na venda de ações de uma empresa), quanto na aquisição de grande parte da entidade, como aconteceu com a Raposa e o Glorioso. O intuito da transformação do modelo de associação sem fins lucrativos para uma empresa é de profissionalizar a maneira como o futebol é tratado no país, deixando o clube, na teoria, nas mãos de pessoas mais qualificadas. Além disso, graças às milionárias dívidas que esses gigantes possuem, muitos dirigentes e torcedores acreditam que esta é a única solução para as tradicionais equipes continuarem existindo no futuro.
Formulado pelo senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG) e sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), a SAF no Brasil prevê que eventuais mudanças de nome, escudo, uniforme ou hino dos clubes só aconteçam mediante a concordância da associação que criou o clube-empresa – muitos torcedores temem que seus times percam a identidade com uma possível transição. Além disso, o projeto decreta que a SAF passa a ser responsável por contratações, acordos e salários de jogadores e funcionários – acordos comerciais também passam a ser de total responsabilidade da Sociedade Anônima do Futebol. Por fim, a lei permite que cada clube tenha seis anos, prorrogáveis por mais quatro, para quitar todas as suas dívidas nas áreas cível e trabalhista. Ronaldo, por exemplo, está atuando como um fiador para a dívida de cerca de R$ 1 bilhão do Cruzeiro, enquanto o mesmo acontecerá na relação do Botafogo com a Eagle Holding, empresa de John Textor (o estadunidense destinará, no mínimo, R$ 400 milhões).
“Eu acho que a SAF é mais uma oportunidade que o mercado brasileiro hoje dispõe de fazer uma transformação na gestão do futebol, que vai de mal a pior, até por conta da pandemia. Os números pioraram. Estamos falando em clubes com dívidas acima de R$ 10 bilhões, que têm novamente [uma] oportunidade. Lembrando que já tivemos a Timemania, depois tivemos o Profut, tentando reorganizar os clubes. Só que desta vez o foco é na transformação da sociedade, que é uma entidade sem fins lucrativos, em empresa. Então, me parece que isso pode, sim trazer investidores interessados no controle, porque hoje o clube social não tem dono. É como o setor público. Então acho que o interesse hoje do investidor é em controlar a operação, como é o caso do Ronaldo, no Cruzeiro, como é o caso desse americano no Botafogo. Então, [a questão] é trazer controle privado para a administração do futebol”, disse o consultor em mercado esportivo Amir Somoggi, fundador da empresa de marketing e comunicação Sports Value, em entrevista à “Agência Senado”.
Apesar da expectativa de uma administração bem-sucedida, a SAF não garante, necessariamente, bons resultados esportivos. O Manchester United, um dos maiores clubes da Inglaterra e de todo o mundo, por exemplo, é administrado pela família estadunidense Glazer desde 2003. Desde o começo da década passada, no entanto, os “Diabos Vermelhos” se distanciaram dos títulos, mesmo com os altos investimentos em reforços para o time principal, e viram os rivais Manchester City e Liverpool empilharem troféus no período. Ronaldo, vale lembrar, também é dono do Real Valladolid, time que até subiu para a elite do futebol da Espanha no primeiro ano de comando do brasileiro, mas voltou à segunda divisão duas temporadas depois. O modelo também abre discussão quanto a desvalorização dos desejos dos torcedores, já que os anseios do dono costumam se sobrepor – na Raposa, o pentacampeão do mundo com a seleção brasileira desligou o ídolo Fábio em seus primeiros dias na direção. Assim, prometendo abrir espaço para o capital estrangeiro e revolucionar a forma como os clubes são administrados, as SAFs estão avançando no país, ainda que sofra certa de resistência de parte da comunidade do futebol.
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