Nos 100 anos dos Camisas Negras, crias do Vasco vestem réplicas dos uniformes da época Sábado, 12/08/2023 – 09:08 O Vasco só volta a campo na próxima segunda-feira, contra o Bragantino, mas o sábado será mais que especial em São Januário. O clube prepara uma grande homenagem e a abertura de uma exposição para celebrar os Camisas Negras, time histórico formado em maior parte por jogadores negros e de baixas condições sociais que rompeu paradigmas racistas e classistas do esporte nos anos 1920 e definiu a história de luta do clube.
Jogadores do sub-20 vestiram réplicas dos uniformes dos Camisas Negras — Foto: Alexandre Cassiano |
A equipe, que começou a ser formada no início daquela década, nos primeiros anos de futebol do cruz-maltino, conquistou no dia 12 de agosto de 1923 o Campeonato de Futebol da Cidade do Rio de Janeiro, o Campeonato Carioca da época, primeiro dos 24 títulos estaduais do clube. Um feito que levaria o Vasco a sofrer com resoluções prejudiciais das principais equipes da elite, na época, incluindo um pedido de exclusão de 12 atletas de seu elenco. O processo culminou na Resposta Histórica, documento em que o cruz-maltino, por não aceitar as condições impostas, pede desfiliação da Associação Metropolitana de Esportes Athleticos (AMEA), que organizaria o campeonato a partir dali.
O time do Vasco de 1923 — Foto: Divulgação/Vasco |
Diante de toda essa história, o clube buscou familiares dos atletas daquela época, que serão homenageados e receberão a Medalha Pai Santana, honraria criada em maio de 2022 para celebrar pessoas que contribuem de alguma forma para tornar a sociedade mais igualitária e inclusiva.
Em conversa com o GLOBO, o historiador do clube, Walmer Peres, contou como foi o processo de encontrar essas famílias. Segundo ele, além da pesquisa aprofundada e do trabalho caso a caso, algumas descobertas históricas foram feitas de formas inesperadas e outras por indicação entre as próprias famílias. “Em alguns casos a família não tem fontes (físicas), mas tem a fonte oral, a memória”, explica.
Walmer Peres, historiador do Vasco — Foto: Alexandre Cassiano |
— Às vezes, eles nem sabiam que eram parentes e em determinado momento descobriram. Foi o caso do Caio Galvão (que descobriu que o bisavô era Leitão, ou Albanito Nascimento, integrante daquele time). A avó, conversando com ele em um trabalho de colégio, disse que o bisavô tinha jogado no Vasco na década de 1920, o “tio Nito”. Ela pegou e uma foto e mostrou, o Nito era o Albanito, o Leitão. Ele já sabia que era parente do Galvão, que foi campeão em 1982, por parte de pai, mas não fazia ideia que tinha outro parente, por parte de mãe, tão ilustre — revela o historiador.
Ontem, três jogadores revelados pelo clube vestiram réplicas do uniforme da época. Os zagueiros Lyncon e Lucas Eduardo e o goleiro Philipe Gabriel posaram para fotos em São Januário.
Exposição na Colina até o dia 20
Além da homenagem, o clube inaugura exposição de quadros com informações sobre a campanha de 1923, com destaque para os atletas e com fotos e documentos restaurados da época, exposição de réplicas históricas dos uniformes e inauguração de uma placa comemorativa aos centenário dos Camisas Negras na entrada da arquibancada social da Colina. Ainda haverá a exibição do documentário ‘Camisas Negras – Uma jornada histórica’, feito pelo Ciclo de Oficinas, projeto social do clube.
A abertura da exposição ao público será também neste sábado, às 14h. Até dia 20, ela ficará no Espaço Experiência, uma das atrações do Tour da Colina, promovido pelo clube em São Januário. Os ingressos custam R$ 70 reais (inteira). Posteriormente, o Vasco faz planos de levá-la para a sede da Lagoa.
Vice-presidente de História e Responsabilidade Social do Vasco, Horacio Junior é quem está á frente da ação. Ele ressalta a importância do clube seguir honrando a memória daqueles que fizeram parte da sua história.
Horacio Junior, VP de História e Responsabilidade Social do Vasco — Foto: Alexandre Cassiano |
— A gente teve a felicidade de cair num mandato com eventos importantes como o centenário do Barbosa (que ganhou um mural em São Januário e deu nome ao CT do Vasco, em 2021), o dos Camisas Negras, esse simbolismo. Eles foram um time que chegou incomodando o cenário futebolístico carioca, que era capital federal. Isso é um pouco da história do do Vasco da Gama — celebra.
Horacio conta que a separação do Vasco entre o clube associativo e a SAF, que hoje cuida do futebol cruz-maltino, não mexeu com os trabalhos de valorização da história da instituição. A relação com sua pasta é ótima e de colaboração. O dirigente comentou ainda a importância de ações para fazer das bandeiras levantadas pelo clube algo além de memória.
— A gente olha para esse time, olha para passado e temos que nos inspirar para o presente, porque o racismo ainda é uma chaga na nossa sociedade. O Vasco, como um gigante para essa sociedade, tem que fazer parte desse debate. Não é uma mera nostalgia falar dos Camisas Negras. Tem que ser uma inspiração para todos, no presente e no futuro.
Nelson, Mingote, Leitão, Arthur, Bolão, Nicolino, Paschoal, Torterolli, Arlindo, Cecy, Negrito, Claudio, Adão, Nolasco, Pires e Russo formavam o elenco dos Camisas Negras no título estadual de 1923.
Fonte: O Globo