Integrantes da Vasconha mostram a loja da torcida e comentam descriminalização Quinta-feira, 04/07/2024 – 04:30
Era um sábado ensolarado antes do clássico entre Vasco e Botafogo. Na íngreme ladeira, um potente som com uma canção do saudoso rapper Sabotage chamava a atenção para um estabelecimento que começou como uma reunião entre amigos vascaínos maconheiros e que se transformou num local fixo de produtos com referência à erva. Chamada de “Vasconha”, a loja fica a apenas 110 metros da entrada principal de São Januário.
Por lá, o visitante encontra os mais variados itens relacionados à maconha: sedas, piteiras, dichavadores, cuias, isqueiros, tesouras, camisas, bonés, além de outras iguarias curiosas, como cervejas e chocolates com sabor e aroma da cannabis, que apesar do gosto e do cheiro, não possuem substâncias canabinoides.
“Não vendemos nada ilegal. Talvez possa gerar um pouco de curiosidade o chocolate e as coisas terpenadas que vendemos, mas que não são ilegais. Nosso chocolate é um terpeno [composto orgânico responsável pelo sabor e aroma dos vegetais] e não tem CBD e THC [canabinoides]. O que vendo mais são produtos de tabacaria e têxteis. Não vendemos droga. Acho que a menor das preocupações da polícia, em dia de jogo, é a Vasconha, porque a gente não traz trabalho. Aqui é pura paz, a galera vem aqui para curtir, tomar um gelo e fazer um pré-jogo”
– Vinícius Santos, o “Cabeça”, integrante da Vasconha
Descriminalização da maconha no STF: ‘1º passo’
Loja física da Vasconha fica a apenas 110 metros da entrada principal de São Januário Imagem: Bruno Braz / UOL |
Recentemente o STF decidiu descriminalizar a cannabis no Brasil. Antes desiludido com a forma como o país tratava o tema, Vinícius “Cabeça” agora acredita que este movimento sinaliza um primeiro passo para outros avanços que, na avaliação dele, ainda se fazem necessários acontecer.
“Era bem desesperançoso. Acho que o Brasil caminha em passos mais lentos, mas foi um bom avanço. Essa pauta dificilmente ia andar com os governos que passaram. Acho que, dessa vez, teve uma facilidade um pouco maior para andar com a votação favorável. Isso não quer dizer que o uso da maconha está legalizado, mas acho que favorece um pouco o uso medicinal, que é uma preocupação nossa. Acho que é o primeiro passo, mas não o único. Não pode dar um passo para trás, temos que estar sempre alertas. Agora já há um pouco mais de esperança”, avaliou.
Cabeça, porém, ainda possui dúvidas de como esta decisão irá funcionar, na prática, nas ruas e nos estádios. O STF estabeleceu um limite de 40 gramas para diferenciar usuários de traficantes.
“Não sei ainda como que o policial vai passar a se comportar a partir disso, acho que nem ele mesmo deve saber as questões, os próprios profissionais que trabalham com isso ainda devem ter um pouco de dúvida. Tem uma quantidade, um limite ali, mas quem vai estar com a balança na hora para pesar? Isso é uma coisa que vai gerar interpretação, cada um vai agir de uma forma. Tem que ter um entendimento geral, e não sei se isso tem agora. Para mim, continua a mesma coisa”.
Moção na Câmara dos Vereadores
Vasconha foi um dos movimentos que recebeu moção de ‘coletivo antiproibicionista’ na Câmara Imagem: Reprodução / Instagram (@vasconhaofc) |
No dia 24 de maio a Vasconha foi um dos movimentos que recebeu uma moção na Câmara dos Vereadores como “coletivo antiproibicionista”. A ação foi idealizada pela vereadora Luciana Boiteux (PSOL).
“São conquistas que vamos tendo. Essa essência da causa não podemos perder de jeito algum. A propagação da ideia é muito legal, mas se não formos para a prática, o que podemos fazer para lutar com o que estamos vendo… A gente quer o debate. E para ter debate, precisamos estar ali brigando. Estamos dando passos e acho que vamos conquistando cada vez mais”, avaliou.
Ações na causa autista
A ciência tem se debruçado nos estudos de como a cannabis medicinal tem atuado em pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Há muitos relatos de benefícios gerados, principalmente nas questões comportamentais e cognitivas.
André “Pintinho” é integrante da Vasconha e possui um filho autista. Ele abraçou a causa e a levou para dentro do coletivo. Desde então, o movimento tem feito ações neste sentido e em breve passará a emprestar gratuitamente abafadores durante jogos do Vasco em São Januário.
“A Vasconha tem um trabalho social muito forte na área do autismo. Comercializamos adesivos e todo valor é revertido para ações sociais. A partir do próximo mês, emprestaremos abafadores de ouvido para crianças com deficiência. Não só com autismo, mas com qualquer tipo de deficiência. As famílias poderão vir aqui pegá-los, assistir aos jogos e depois retornar. A Vasconha não é só a questão da área canábica, mas também tem uma parte cultural que é bem legal as pessoas conhecerem”
– André “Pintinho”, integrante da Vasconha
Fonte: UOL