Jorge Salgado sequer completou um ano na presidência do Vasco, mas já vivenciou em sua gestão duas grandes frustrações: o rebaixamento para a Série B e o fato de o clube não ter conseguido voltar à elite em 2022 – o matemático Tristão Garcia apontou que não há mais chances de acesso. Apesar dos avanços administrativos, o futebol foi a grande decepção em 2021.
Ao assumir, em janeiro, a expectativa era de mais investimento e uma nova estrutura à frente da pasta. A realidade, no entanto, foi complemente diferente, com corte de gastos devido ao rebaixamento para a Série B, centralização de comando no diretor-executivo Alexandre Pássaro e promessas de campanha não cumpridas.
Colocar a queda para a Segunda Divisão apenas na conta da gestão de Salgado seria incorreto. Ele assumiu o clube efetivamente a sete rodadas do fim do Brasileiro, embora tenha participado de decisões importantes ainda na gestão de Alexandre Campello, como as contratações do técnico Vanderlei Luxemburgo e Pássaro e a renovação do empréstimo de Benítez.
O inédito fracasso na Série B, porém, é de total responsabilidade da atual gestão. O clube adotou a necessária política de corte de gastos e apostou que o investimento no futebol, reduzido pela metade, seria suficiente – a direção estimou em R$ 100 milhões a redução de receita pela queda. De fato, apesar dos cortes, o Vasco ainda esbanjou uma das maiores folhas salariais da Segunda Divisão.
Em campo, no entanto, o elenco decepcionou e não entrou na zona de acesso em nenhum momento da competição. E há motivos para cobrar, uma vez que o dirigente não cumpriu promessas de campanhas relacionadas ao futebol. Nova estrutura no departamento de futebol, política de contratações, manutenção de treinadores, cortes no elenco… o ge buscou as principais ideias lançadas por Salgado e seu grupo político (Mais Vasco) e constatou que boa parte não foi cumprida.
Estrutura do departamento de futebol
Promessa de Salgado
– Vão ter três janelas no futebol do Vasco. Futebol profissional, base e feminino. E aqui vai ter outra caixinha da medicina. Acima deles o VP do futebol. Estou amadurecendo a ideia de ter um gestor profissional de futebol. Terá de ser um ex-jogador de seleção, com bom trânsito na mídia, conhecido internacionalmente, e que queira assumir uma profissão um pouco diferente da atual que existe no futebol. Ele vai ser o responsável pelo futebol do Vasco. Já sei mais ou menos quem seria a pessoa ideal. Não posso revelar, já tive contato, a pessoa levou um susto, achou que seria muita responsabilidade. Mas eu disse que ele não estaria sozinho, todos estariam trabalhando juntos. Sobre VP de futebol, esse nome vai surgir. Não é fácil encontrar. Vamos ganhar a eleição e resolver isso – disse Salgado, em entrevista ao ge, publicada em 31 de outubro do ano passado.
O que aconteceu
Esse talvez seja o principal ponto. Salgado projetou uma grande estrutura para o departamento, liderada por um vice de futebol. No entanto, trouxe apenas Alexandre Pássaro, que acabou acumulando e centralizando funções no cargo de diretor-executivo.
Salgado teve José Luis Moreira, VP de futebol de Alexandre Campello, à frente do futebol até o fim do Brasileiro de 2020, mas o dirigente saiu após o rebaixamento. Desde então a pasta está vaga. Em relação ao CEO do futebol, houve conversas com Paulo Roberto Falcão, mas a queda para Série B esfriou o assunto. O clube alegou falta de recursos.
Comitê gestor e política de contratações
Promessa de Salgado
-Vamos ter um comitê gestor no futebol. Qual é o processo de contratação? Qual é o processo hoje? Alguém sabe dizer? É da cabeça do Campello? Da cabeça do José Luís Moreira? Da cabeça do treinador? Ninguém sabe responder. Eu vou criar um comitê ao lado da presidência. Teremos o presidente, o vice de futebol, o gestor e o VP de Finanças. Eu sou a palavra final. Mas vai haver um debate – disse Salgado, em entrevista ao ge, publicada em 31 de outubro do ano passado.
O que aconteceu
Ainda que sem a presença de um VP de futebol, o Comitê Gestor foi criado. Fazem parte Jorge Salgado, o vice-presidente Carlos Roberto Osório, o VP de Finanças, Adriano Mendes, o CEO Luiz Mello e Alexandre Pássaro.
Em relação a contratações, no entanto, a missão coube a Alexandre Pássaro, com a ajuda da comissão técnica e do departamento de análise. Antes de concretizadas, porém, as negociações receberam aval de Adriano Mendes ou Luiz Mello. Foram contratados 13 jogadores em 2021.
Troca de treinadores
O que disse Salgado
-Você acha que trocar de treinador toda hora melhora o desempenho? Você não tem nenhum time campeão da Série A que tenha trocado três, quatro vezes de treinador por ano. Você não chega na metade do trabalho de um treinador. Eu sei que vou sofrer, mas vou tentar modificar essa situação. Eu quero mais inteligência na alocação de recursos, quero ter um plantel mais enxuto e quero tentar bancar um treinador por mais tempo – disse Salgado, em entrevista ao ge, publicada em 31 de outubro do ano passado.
O que aconteceu
A troca no comando técnico foi constante no primeiro no de gestão de Salgado. Desde janeiro, quatro treinadores estiveram à frente do Vasco. Antes de assumir, ele participou da decisão de demitir Ricardo Sá Pinto e tentou a contratação de Zé Ricardo. Sem sucesso, deu aval para o acerto com Vanderlei Luxemburgo.
Após o rebaixamento, três nomes estiveram à frente do Vasco na Série B: Marcelo Cabo, Lisca e Fernando Diniz. Lisca foi o único que pediu demissão.
Maior investimento no futebol
Promessa de Salgado
– Devemos ter incremento de mais ou menos R$ 2 milhões por mês. Se fizer conta simples, de investimento de R$ 2 milhões a mais na folha, mais R$ 1,5 milhão de redução de despesas de salários de jogadores, você tem mais ou menos R$ 3 milhões e pouco de incremento no futebol. Multiplicado por três anos, a gente vai ter algo perto de R$ 100 milhões a mais investido no futebol em três anos – disse Salgado, em entrevista ao ge, publicada em 31 de outubro do ano passado.
O que aconteceu
O rebaixamento para Série B mudou radicalmente os planos em relação ao investimento no futebol. Se durante a campanha o plano era injetar R$ 2 milhões na folha salarial, que na época estava na casa de R$ 5 milhões, com a queda a ordem foi reduzir gastos. Hoje a folha do futebol custa um pouco mais de R$ 2,5 milhões.
Elenco inchado
Promessa de Salgado
– A ideia em prática é a seguinte: primeiro temos que ter mais eficiência no futebol. O futebol do Vasco é muito mal administrado, os resultados comprovam isso. Não é falta de recursos. É gastar mal os recursos. Vou dar um pequeno exemplo. O Vasco inscreveu 45 jogadores na Sul-Americana, mas certamente tem mais do que isso. O Vasco não para de contratar jogador, todo dia anuncia alguma contratação. Daqui a pouco teremos um elenco com 60 jogadores. Só jogam 11 e outros 11 ficam no banco. Você está pagando 35, 40 jogadores que não jogam – disse Salgado, em entrevista ao ge, publicada em 31 de outubro do ano passado.
O que aconteceu
O elenco do Vasco hoje é mais enxuto e conta com 35 jogadores. Após o rebaixamento, o clube priorizou cortes e o aproveitamento da base. Isso refletiu na folha salarial, cerca de 50% menor do que na temporada passada.
Silêncio após derrota para o Botafogo
Durante a segunda-feira o ge tentou contato com o presidente do Vasco, mas não teve sucesso. Na semana passada, em entrevista coletiva para detalhar novos acordos para parcelamento de débitos tributários, trabalhistas e cíveis, o dirigente comentou sobre o momento do clube.
– O futebol está devendo. A gente tinha uma projeção completamente diferente daquela que a gente vê hoje. Nem por isso, faltou trabalho e planejamento. Tivemos dificuldade para montar o time no começo da gestão. Saímos de 15 jogadores e recebemos outros 12 em poucos meses, o que não é fácil. Outros times já estavam com planejamento para a Série B pronto. Quando olha para a tabela, se analisa que o futebol foi mal e a administração se perdeu. Agora, olhando o dia a dia tivemos avanços consideráveis no departamento de futebol. O Vasco não pontuou como a gente imaginava, isso acontece no futebol – analisou o dirigente na última quarta-feira.
Nessa mesma coletiva, Salgado afirmou que o balanço financeiro indicaria que o futebol teve custo de R$ 60 milhões em 2021 e que, com as medidas adotadas pela direção, poderá aumentar na próxima temporada.
Fonte: ge