Mobilizado a fim de evitar o rebaixamento à Série B, o Vasco teve reunião importante na manhã desta sexta-feira, antes do penúltimo treinamento que antecede o duelo com o Internacional, domingo, às 16h, em São Januário. O presidente Jorge Salgado, Carlos Osório (primeiro vice-presidente), Alexandre Pássaro (executivo de futebol) e Vanderlei Luxemburgo conversaram por cerca de 40 minutos com o elenco. O papo foi iniciado às 9h30, e os atletas foram a campo às 10h15.
Em longa entrevista ao ge, o executivo Alexandre Pássaro detalhou como foi a apresentação do “Plano de 15 dias” ao grupo de jogadores. Afirmou que a conversa foi muito produtiva, com a participação tanto de dirigentes quanto das da liderança do elenco, e procurou resumir a reunião em uma palavra: unidade.
– Hoje no CT tivemos uma mobilização gigante de muitas pessoas do Vasco. O Salgado esteve aqui, o vice-presidente Osório também. Muitas pessoas do clube vieram aqui e conversaram com todos do elenco antes do treino. Foi uma conversa muito produtiva, uma conversa mesmo e não um discurso unilateral. Os jogadores participaram, contribuíram e dividiram as questões deles conosco. A gente já vem caminhando para isso, ainda que numa gestão super recente, mas criou-se ainda mais uma unidade maior.
– De todos sermos um só time. Isso foi criado e enfatizado hoje. Uma conversa de confiança, de acreditar, dar força e segurança. Enfim, de tirar toda e qualquer pedra de caminho, além das pedras que já existem, que são jogos, dificuldades e a zona de rebaixamento em que estamos – afirmou Pássaro.
Confira o que ficou definido no Plano de 15 dias:
– Não haverá folga no Carnaval e nem até o final do Campeonato Brasileiro
– Concentração alternada: um dia o elenco treina no CT e volta para casa, no outro treina novamente, mas dorme no hotel.
– Carga de horário dobrada: não haverá treino em período integral, mas o jogador permanecerá dentro dos locais de trabalho o dobro do que ficava anteriormente.
– Viagem com o Corinthians um dia antes com todos os integrantes do plantel, mesmo os lesionados e suspensos.
– Reunião “médica/física” diária para discutir o que vem sendo feito corretamente ou não.
Elenco pede que divisão do eventual bônus pela permanência seja dividido
Pássaro citou que atrasos salariais não foram pauta na conversa desta sexta-feira, mas revelou um desejo manifestado pelo grupo logo após a derrota por 3 a 0 para o Fortaleza, na última quarta-feira. De acordo com o diretor executivo de futebol, partiu do elenco um pedido para que, caso o Vasco permaneça na Série A, o bônus previsto para esta meta atingida seja dividido com os funcionários de outros setores do clube e da base.
– Para você ter uma ideia do caráter, perfil e preocupação desse elenco, houve uma conversa pós-jogo do Fortaleza onde partiu dos atletas uma solicitação de que esse bônus por resultado, quando alcançado, seja dividido por todos os funcionários do clube. Não falo só do futebol, falo de São Januário, base e etc. Partiu deles para que todos estejam na mesma página. Eles não estão preocupados com isso, estão abrindo mão de uma parte desse bônus para poder destinar a todas pessoas envolvidas, preocupadas e que vão dar força nesse momento.
– Esse é o tipo de elenco que a gente tem e que às vezes as pessoas não conhecem porque só veem jogando, e o resultado acaba pautando. Esse é o tipo de líderes que temos aqui. Eles estão preocupados com a instituição, não com eles, com premiação ou com o bolso deles.
Confira outros tópicos da entrevista com Pássaro:
O que foi conversado e o que tiraram de mais positivo?
– Na verdade a conversa foi muita aberta. Os dois lados tiveram a mesma sensação: os jogadores estão imbuídos nesses três jogos, totalmente focados em manter o Vasco na Série A. Percebemos que estamos na mesma sintonia, somos um só time. Tudo o que foi falado foi no sentido de dar confiança, proteção e deixar claro que estaremos juntos independentemente dos resultados. Foi mostrar que eles não estão sozinhos e que nós não estamos.
– Houve a constatação mútua de acreditar, de saber que é possível e ter a confiança de que o Vasco vai permanecer na Série A. Conversa que leva o astral e energia de todo mundo para cima. Temos dois caminhos agora: um de acreditar e ajudar. E outro de desacreditar e atrapalhar. Não existe outro, já escolhemos nosso caminho, e a gente acredita que a torcida também escolherá esse caminho.
Salários atrasados fora de pauta (o Vasco deve a folha de dezembro, 13º e parcelas do acordo de repactuação de uma dívida celebrado em junho)
– Houve uma continuação da conversa que a gente tem desde que assumiu. O Salgado pagou duas folhas em 20 e poucos dias, o mês dele até agora não tem 30 dias. Os jogadores sabem desse movimento, observaram o que aconteceu e acreditam no que essa gestão está se propondo a fazer. Então isso não foi pauta hoje porque não é uma preocupação. É um ponto que a gente precisa resolver, mas não precisa resolver isso para ficar na Série A. Precisa porque é obrigação do clube, nós vamos honrar, e os jogadores têm total confiança.
– O que temos aqui ao longo do campeonato é um bônus de resultados. E agora o bônus vale para a permanência na Série A. Mas para você ter uma ideia do caráter, perfil e preocupação desse elenco, houve uma conversa pós-jogo do Fortaleza onde partiu dos atletas uma solicitação de que esse bônus por resultado, quando alcançado, seja dividido por todos os funcionários do clube.
Quem mais participou do papo
– Além dessas figuras (VP de Relações Públicas Mauricio Corrêa também estava presente), tivemos conversando com eles o treinador e funcionários do clube. Houve uma mobilização geral, citei o presidente e o vice porque são pessoas que não costumam frequentar diariamente o CT, mas que vieram e foram os porta-vozes daquilo que a gente falou.
Defesa a Leandro Castan, acusado por torcedores de ter “entregado os pontos” com a entrevista pós-jogo com o Fortaleza
– Acho que a gente precisa contextualizar é quem é o Castan. Tenho certeza que a torcida sabe quem é o Castan. Eu, que não conhecia o Castan e já o conheço há uns 45 dias, posso garantir que se há uma pessoa que não entregou os pontos é o Castan. Na verdade, ninguém entregou os pontos e muito menos o Castan.
– Ele estava na saída de um jogo bastante nervoso, decepcionado, e foi perguntado na beira do campo sobre isso. Temos que falar a verdade de que não é uma situação que nos orgulha o que estamos vivendo. Só isso que o Castan disse.
– Quando o Castan diz que é uma vergonha, é uma vergonha estar que o Vasco, com a história, pelos jogadores e por tudo que carrega e tem, estar nessa situação. Nada mais ele fez do que tomar as dores do torcedor e externar o que os torcedores sentem. É totalmente diferente de entregar os pontos.
– Se estamos nessa situação, tudo que vamos fazer é para não sentir mais isso. Todos sabemos do caráter, perfil, preocupação e líder que o Castan é aqui dentro. Do quão grato é ele ao Vasco, que foi quem o recebeu no Brasil depois de todos os problemas que passou no Brasil. Acho que isso não deve ficar, é uma polêmica que não combina com o Castan. A gente não deve colocar esse carimbo no Castan depois de tudo que fez pelo Vasco e vai continuar fazendo.
Defesa também a Vanderlei Luxemburgo após entrevista em que falou que o Flamengo estava em outro patamar no Brasileiro
– A entrevista do Castan, no outro jogo teve uma polêmica do Vanderlei. São todos momentos pós-jogo de quem está sofrendo com os resultados. Quando as coisas se acalmam, atitudes como essa de dividir premiação essas sim que combinam e emanam do grupo. As outras não aderem a esse grupo que temos. Vamos com eles juntos até o final de todas as formas. No momento certo, a gente vai fazer avaliação e ver o que fará na próxima temporada, mas a gente não fala disso dentro do Vasco.
– A gente acredita muito nas pessoas que podem deixar o Vasco na Primeira Divisão, que é o grupo de atletas. Não estaria falando isso se estivesse havendo descompromisso, pouco caso, falta de respeito com a camisa e com a tradição. Muito pelo contrário.
Explicação detalhada do Plano de 15 dias
– É um plano para o campeonato, independe do que acontecer no domingo ou no outro. É um plano de ações extras em relação ao que a gente já vinha fazendo. Desde que chegou aqui, a gente mudou muita coisa na rotina, treinos, concentração e com viagens um dia antes. Agora estamos adicionando coisas, que, na nossa opinião, vão nos ajudar a passar por esses três jogos de uma forma melhor. E de novo: não é uma coisa unilateral, é algo de todos entenderem o que é melhor.
Sem folgas
– A primeira coisa que a gente fez, lógico, foi tirar qualquer possibilidade de folga no Carnaval ou autorizar qualquer ida a eventos. Isso não vai existir. Temos um histórico de pouquíssimas folgas desde que chegamos, foram três ou quatro.
Concentração alternada e carga horária dobrada
– Além disso: a equipe, a partir desse jogo com o Internacional até o jogo com o Goiás, vai concentrar em dias alternados. A concentração não vai ser feita só pré-jogo. Para que a gente mantenha o jogador conosco por mais de 24 horas num ciclo de dois treinos. Com isso, vamos controlar muito melhor a alimentação, o sono e parte psicológica. A nossa psicóloga Maíra estará à disposição em todos os dias, não só na concentração, mas aqui também no CT.
– Vamos ter mais tempo para estudar a parte tática tanto nossa quanto dos adversários. Teremos o grupo por mais tempo. Jogador que eventualmente esteja lesionado poderá tratar em três turnos porque agora precisamos fazer todo o esforço para ter todos à disposição.
– Nessa conta, a carga horária em que permanecerão trabalhando no Vasco vai dobrar. Se o jogador trabalha X agora, ele vai trabalhar 2X.
Viagem com recuperação realizada no avião e elenco completo
– No jogo contra o Corinthians, vamos um dia antes com toda uma estrutura até maior para que a gente possa ir e voltar fazendo o “recovery” no avião, como por exemplo o Henrique fez após o jogo contra o Fortaleza. Ele não está descartado e estamos fazendo de tudo para tê-lo domingo. Contra o Corinthians, todo o elenco, mesmo os lesionados e suspensos, viajarão para São Paulo.
Reuniões diárias das comissões
– Faremos reuniões médica/física diárias após os treinos para discutirmos comigo, Vanderlei e supervisores o que foi feito. É hora do esforço total e geral para sair dessa situação. É um esforço de permanência, foco e controle. Ninguém estará pensando em nada além da permanência na Primeira Divisão. Foi isso que transmitimos e o que eles também transmitiram para nós. Isso que vamos repetir, fazer e forçar nos próximos 15 dias além de todas as ações que já temos feito.
– Estamos adicionando coisas que são completamente incomuns no futebol. Se você pegar, a maioria dos times da Série não concentra em dias alternados.
Mensagens de funcionários e atletas da base ao elenco e à diretoria
– Houve ontem uma mobilização do clube inteiro, e falo de jogadores da base e de funcionários. Mandaram vídeos, cartas, e-mails e manifestações de todos os tipos aos jogadores, ao Vanderlei e ao presidente Salgado. O clube todo está imbuído. Foi uma coisa muito orgânica e natural, mostrando o desejo de todos e que o Vasco é uma unidade. Tenho visto todo mundo remando numa só posição, hoje somos um só time.
Funcionários não sabem da divisão do prêmio
– E essa manifestação dos funcionários foi feita sem eles saberem que o bônus seria dividido. Isso mostra a unidade, a crença e de que como as coisas estão novamente se interligando. Por isso que a gente precisa continuar na Série A e que a gente vai continuar na Série A exatamente para dar prosseguimento a tudo que iniciamos agora.
Mudança da premiação
– Existia antes um bônus por jogo, que é o bicho. Como quando chegamos, o Vasco já estava inserido na luta contra o rebaixamento, não tinha sentido pagar por jogo. Então a gente criou um modelo híbrido que tem valores por jogo e pela permanência na Série A, mas o grande bônus é a permanência na Série A. Isso que temos mantido desde o jogo com o Atlético-GO com as mãos da gestão do Jorge Salgado.
– Muito se fala de valores e premiações atrasadas, mas os jogadores trabalham muito aqui e se preocupam muito com o Vasco. Eles sofrem a derrota do mesmo jeito que os torcedores sofrem. E eu testemunho vestiário, viagens e os ônibus. Eles não estão preocupados. Isso nesse momento está bastando. Eles não estão correndo menos e não estão treinando menos porque existem pendências do passado. Estão fazendo tudo de peito aberto para realizar a mudança que a gente tanto quer para o Vasco. O bônus é muito mais um gesto do que valor. Não existe manifestação melhor e que mais combina com esse grupo do que essa de dividir o prêmio.
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